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A guerra do pudim – A crônica viva de Fernando Dezena

A GUERRA DO PUDIM

Ilustração da crônica 'A Guerra do Pudim' por Fernando Dezena

Os piores compromissos são aqueles que fazemos conosco. À primeira vista, parecem fáceis — afinal, ninguém estará ali para nos cobrar. Mas são, justamente por isso, os mais cruéis: sussurram no fundo da consciência, em batalhas silenciosas entre nossos anjos e demônios.

Dentro de cada um de nós, habitam os dois, e cabe ao livre-arbítrio decidir qual voz ouvir. Não somos santos o tempo todo, nem monstros por completo. Às vezes o lado bom vence de lavada; noutras, o mau nos pega desprevenidos.

Não precisamos ir tão longe em exemplos. Penso nisso toda vez que prometo acordar cedo para caminhar e, ao abrir os olhos, o travesseiro me convence de que dormir mais meia hora é um ato de amor-próprio. Ou quando juro que vou resistir ao pudim de leite após a refeição, mas uma voz insinuante me garante que “só um pedacinho” não fará mal — e, sabemos, esse pedacinho é o início do fim.

Até esta crônica passou por essa batalha. Há mais de dez anos — muito mais — prometi escrever um texto todos os domingos, faça sol ou caia o mundo. Esta semana, após quinze horas somando voos e aeroportos, quase me rendi: pensei em republicar um texto antigo e ninguém notaria. Quase. O anjinho bom venceu — abriu o computador e me pôs a escrever. O assunto veio num estalo, e em meia hora o texto estava pronto — ainda sem lapidações. Faço-as até domingo.

Porque, se para escrever nos dá uma certa preguiça, reler o texto e achar melhorias é tudo de bom. A palavra aqui, a ideia acolá, e o enredo vai tomando forma e ficando gostoso, com a nossa cara. Quando, ao final, recebemos um elogio, suspiramos de satisfação.

Finalmente, no fundo, é sempre essa a luta: desistir fácil ou manter a palavra. E talvez o que nos salva, dia após dia, não seja vencer sempre — mas escolher, de novo e de novo, qual voz queremos escutar.

Fernando Dezena
Águas da Prata, SP, 28 de setembro de 2025.

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