Belém do Pará e a COP 30
Meu amor ata a baladeira / embalança a beira do rio-mar.
Belém, Belém, acordou a feira / que é bem na beira do Guajará.
Belém, Belém menina morena / vem Ver-o-Peso / do meu cantar.
Belém, Belém és minha bandeira / és a flor que cheira no Grão-Pará.
Belém, Belém do Paranatinga / do Bar do Parque, do bafafá.
Bem-te-vi / sabiá, palmeira / não, não baladeira / deixa voar.
Belém, Belém, menina morena…” (Os versos na canção do saudoso Chico Sena nos convidam a um encontro com a Flor do Grão-Pará.)
Belém do Pará acorda novembro entre o cheiro do açaí e o calor da feira do Ver-O-Peso, às margens do rio-mar, com o rumor dos barcos no Guamá. A cidade bonita, a cidade sofrente, está diante dos olhos do mundo. Nasce esta crônica literária sob o sol quente da manhã amazônica.
As nações do mundo nos ouvirão? Os senhores dos grandes palácios, autoridades que não pisam o chão, ousarão ensinar à Amazônia como se mantém uma floresta em pé? “Belém, Belém, menina morena…” és caos e encanto, vestida para a COP 30, maquiada com pássaros gigantes e onças de mármore.
Entre os dias 10 e 21 de novembro, Belém será palco da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas, a COP 30. Líderes mundiais, organizações não governamentais, representantes da sociedade civil, cientistas e artistas discutirão o futuro do planeta e ações de combate às mudanças climáticas.
      Belém é o centro das reuniões, e a Amazônia, o espaço simbólico das discussões sobre clima e sustentabilidade. Que venham “ver o peso do nosso cantar”: pela preservação ambiental, pelo desenvolvimento sustentável, pela transição energética. O Brasil tem a oportunidade de mostrar ao mundo sua liderança na busca de soluções globais para a crise climática.
Há algo de profundamente simbólico nesse encontro entre a floresta e o mundo. Pela primeira vez, o coração verde do planeta se torna palco das vozes que debatem o futuro da Terra. E o Brasil, dono dessa imensidão de rios e florestas, é convidado a olhar para si com a responsabilidade de quem guarda um tesouro que não é só seu.
Mais do que um evento político ou diplomático, a conferência soa como um chamado, um murmúrio vindo das mangueiras de Belém, lembrando que o tempo de falar já quase se esgota. A Amazônia, com sua respiração antiga, pede mais do que discursos: pede gesto, compromisso, cuidado. Porque é aqui, no pulsar úmido da floresta, que se decide o destino do clima e, talvez, o da própria humanidade.
O mundo, enfim, se inclina diante da Amazônia para ouvi-la. A COP 30 chega como quem retorna à origem, onde a terra ainda fala, onde a água ainda pensa, onde o tempo “é a flor que cheira no Grão-Pará”. eu falo assim porque sou poeta.
Acontece aqui não somente um encontro de nações, mas um chamado da própria Terra: um lamento, um canto da “Rosa Flor” que atravessa o vento e a memória, pedindo menos promessas e mais pulsar, mais agir, porque o futuro, aqui, tem raízes.
“Belém do Paranatinga”, da chuva passageira, do povo cabano, de enfrentamento e resistência viva diante de imensas desigualdades, abre as portas e os rios à fraternidade do mundo.
Edmir Carvalho Bezerra
03 de novembro de 2025
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