Acesso ou cadastro Autor(a)

Crônica com Pastel — Fernando Dezena e o sabor da literatura

Crônica com pastel

São Paulo, SP, 9 de novembro de 2025 — Fernando Dezena

Crônica com pastel — Fernando Dezena Mordi a isca. Caminhando pelas calçadas do Gonzaga, em Santos, tarde-noite de uma terça-feira, antes de comer o pastel da japonesa, fui à Martins Fontes, protegendo-me sob os toldos esticados. Três ou quatro atendentes postavam-se diante das prateleiras, prontos para me ajudar. Sempre me incomodam. Acontece que o gostoso é observar os livros, as capas, as cores; vez ou outra tirá-los das prateleiras, ler uma orelha ou o primeiro parágrafo do primeiro capítulo. Só por farra. Sinto-me constrangido com os olhares atentos sobre mim. Como quem questiona: “Não vai comprar, não?” Decidi vasculhar o piso superior. A escada em caracol, larga e de mármore, puxou-me. Olho por todos os cantos, e nada que fizesse gritar: “Nossa, quanta coisa bacana!” Apenas livros didáticos. Um porre de terça-feira chuvosa. Hospedado em um hotel próximo, eu só procurava distração. A mocinha saiu de trás do balcão e veio em meu auxílio. Antes que dissesse uma palavra, fugi por onde vim, buscando o piso térreo.

Onde estariam os títulos de poesia?

Em um canto, a placa: Literatura brasileira. Fui em passos rápidos. O primeiro livro, fora de ordem — apontando para mim —, era Tempo de Retomada da Trudruá Dorrico. Simpática escritora indígena, que conheci em uma FLITABIRA. Fotografei e mandei para ela, agradeceu o registro. Não é comum ver a produção literária dela exposta assim. Depois corri os olhos pelos repetidos títulos que já compõem a minha biblioteca. Desanimei. Pensando em voltar para o hotel, surgiu à minha frente: Um século em cem crônicas. Capa branca, com desenhos de que gosto, organizado por Maria Amélia Mello e com a colaboração de Claudia Mesquita. Traz mais de uma dezena de cronistas que passaram pelo jornal O GLOBO. Na verdade, são trinta e dois. Junto com a escolha cuidadosa de dois ou três trabalhos, vem uma minibio do autor. Encantou-me pelos nomes. Se fosse ler algo do Braga, não me interessaria. Já o fiz de trás para frente e de frente para trás em diversas edições emprateleiradas no CAFOFO. Mas o livro guarda preciosidades, como Cacá Diegues, Chico Anísio, Danuza Leão, Marisa Raja Gabaglia, entre outros.

Quarto de hotel, depois dos pastéis de carne e queijo e de um suco de laranja, que me custaram quarenta reais, pus-me a ler a apresentação das organizadoras e o prefácio de Joaquim Ferreira dos Santos. Da apresentação deixo a frase: “As crônicas adormecem no jornal e amanhecem nos livros.” Do prefácio, a certeza de que “o cronista abre a janela para renovar o ar e encher de prazer e beleza a vida do leitor.”

Fernando Dezena

Mais visualizadas no mês

  1. Do livro: ‘As borboletas não voam em linha reta’, poemas de Cristina Siqueira (849)
  2. Belém do Pará e a COP 30: quando a Amazônia fala e o mundo escuta (643)
  3. “Moçalinda e seus maridos” – Uma história de África por Jeremias A. Muquito (584)
  4. José Ildone Favacho Soeiro: Poeta Vigilengo (542)
  5. Marina: guardiã do tempo – por Flávio Viegas Amoreira (527)
Foto do autor

Luiz Fernando Dezena da Silva é natural de Águas da Prata, SP e atualmente mora na cidade de São Paulo. É poeta, contista e cronista. Dirige o Cafofo do Dezena, um espaço que reúne seu blog, podcast (no Spotify) e vídeos no YouTube, além de marcar presença ativa no Instagram e Facebook com reflexões literárias, crônicas e poesias. É membro da Academia de Letras de São João da Boa Vista, Diretor da União Brasileira de Escritores – UBE e agitador cultural no Espaço Cultural da Boca do Leão.

Compartilhe esse post!

0 0 votos
Classificação do artigo
Inscrever-se
Notificar de
guest
0 Comentários
mais antigos
mais recentes Mais votado
Feedbacks embutidos
Ver todos os comentários

Outros posts

Cadastre-se como autor(a) no Ver-O-Poema.

Após se cadastrar você poderá enviar suas próprias postagens e nós cuidaremos das configurações.

assine nossa newsletter

postagens recentes

comentários recentes

divulgação

Cabeza de serpiente emplumada, novo livro de poesia de Claidio Daniel (Cajazeiras: Arribaçã, 2025)

vendas

Em Pssica, que na gíria regional quer dizer ‘azar’, ‘maldição’, a narrativa se desdobra em torno do tráfico de mulheres. Uma adolescente é raptada no centro de Belém do Pará e vendida como escrava branca para casas de show e prostituição em Caiena.
Um casal apaixonado. Uma intrusa. Três mentes doentias. Agora em uma edição especial de colecionador com capítulo extra inédito, conheça o thriller de estreia de Colleen Hoover, que se tornou um fenômeno editorial e best-seller mundial.
Editora Rocco relançou toda a sua obra com novo projeto gráfico, posfácios e capas que trazem recortes de pinturas da própria autora
Considerado o livro do ano, que virou febre no TikTok e sozinho já acumulou mais de um milhão de exemplares vendidos no Brasil.
A Biblioteca da Meia-Noite é um romance incrível que fala dos infinitos rumos que a vida pode tomar e da busca incessante pelo rumo certo.
Imagine parar por alguns instantes e desfrutar de um momento diário com alguém que te ama e tem a resposta para todas as tuas aflições.
0
Adoraria saber sua opinião, comente.x