“Dona Doida” – Poema de Adélia Prado

Uma vez, quando eu era menina, choveu grosso
com trovoadas e clarões, exatamente como chove agora.
Quando se pôde abrir as janelas,
as poças tremiam com os últimos pingos.
Minha mãe, como quem sabe que vai escrever um poema,
decidiu inspirada: chuchu novinho, angu, molho de ovos.
Fui buscar os chuchus e estou voltando agora,
trinta anos depois. Não encontrei minha mãe.
A mulher que me abriu a porta riu de dona tão velha,
com sombrinha infantil e coxas à mostra.
Meus filhos me repudiaram envergonhados,
meu marido ficou triste até a morte,
eu fiquei doida no encalço.
Só melhoro quando chove.

Autor

  • Adélia Prado

    Adélia Prado (1935) é uma escritora brasileira. Poetisa e romancista, consagrou-se como a voz mais feminina da poesia brasileira.
    Em 1950, após a morte de sua mãe, Adélia começou a escrever seus primeiros versos. Em 1953 formou-se professora e logo passou a lecionar. Em 1973 formou-se em filosofia.
    Publicou seus primeiros poemas em jornais de Divinópolis e de Belo Horizonte. Em 1975, com o apoio de Carlos Drummond de Andrade seus poemas foram publicados no livro "Bagagem" que chamou a atenção da crítica pela originalidade.
    Em 1978, publicou "O Coração Disparado", com o qual conquistou o “Prêmio Jabuti de Literatura”, conferido pela Câmara Brasileira do Livro.
    Em 1979, depois de lecionar durante 24 anos, Adélia Prado abandonou o Magistério e passou a se dedicar à carreira de escritora.
    Foi Chefe da Divisão Cultural da Secretaria Municipal de Educação e Cultura de Divinópolis. Participou, em Portugal, de um programa de intercâmbio cultural entre autores brasileiros e portugueses. Em 2014, foi condecorada pelo governo brasileiro com a “Ordem do Mérito Nacional”.

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