
RUIDOR
(Carlos Correia Santos)
Em 13 de maio de 2025
Que barulho faz a dor?
O de fechar de portas?
O de abrir do ventre?
O de rasgar de envelope?
O de selar de cimento?
Que barulho faz a dor?
Soluço?
Suspiro?
Sussurro?
Silvo?
O choro que não vai existir.
O ninar que não se cantará.
O quebrar que não vai cair.
O riso que não gargalhará.
Que barulho faz a dor?
O som das letras de um poema?
Desse pretencioso poema?
O som das notas de um grito?
O som dos instrumentos de um réquiem?
Dói a palavra que não se diz?
Dói a palavra que diz silêncio?
Dói o silêncio da palavra que falta?
Dói a falta da palavra que cala?
A dor faz barulho?
A dor sabe soletrar-se?
A dor murmura ou berra?
A dor... se ouve?
Quanto barulho...
Quanta dor...
§§
ENQUANTO SEGUES
(Carlos Correia Santos)
É gente que anda pela rua...
ou é o que se escapa de gente ser?
Aquela mulher...
Aquela ali!
Aquela pela qual passaste
e foste não-ver...
Aquela mulher... é ela?
Ou é o que foge dos sonhos dela?
Aquele idoso...
Para de fingir não ter notado!
Aquele idoso acolá!!!
Aquele mesmo!
Será ele mesmo?
Ou será ele a tristeza dos filhos
que não ligam mais?
Aquela criança que te pede algo,
que balança o copo para moedas...
mas fazes de conta não ver...
Exato! Aquela criança!
Ela ainda é exata criança?
Ou é toda a infância
que dela se derrama para além do copo,
que dela sangra e chora...
e se perde?
Então me diga:
é gente que anda pela rua
ou é o que se escapa de gente ser?
E quanto a ti?
Não disfarça!
Sim, eu falo de ti!
O que escapa de ti
enquanto segues pelo mundo
e vais te perdendo de...
gente ser?
§§
CARINHO-PASSARINHO
(Carlos Correia Santos)
Carinho, voa leve.
Vai e leva lua e som...
Feito passarinho breve,
voa e deixa em mim um dom.
Quero o dom de ser sorriso...
Quero o dom de brisa ser...
Quero como num paraíso,
trazer só o bem viver...
Passarinho, leve voa!
Voa e leva o agoniar.
Volta voando com carinho
na pena breve do acalmar.
Abro a gaiola de mim e cismo:
será que em voos eu me vou?
Ou será que caio em abismo?
Que carinho-passarinho sou?
O que em mim é so carinho?
O que em mim não é mais voar?
O que em mim é passarinho
só querendo no amor pousar?
§§
SERENAR
(Carlos Correia Santos)
Se amanheceu
É porque entardece
E a tarde tece
Noite dolente
Se anoiteceu
É porque amanhece
O amanhã nunca se esquece
De ser diferente
Se feneceu
É porque reaparece
Porque tudo que some
Pode ser renascente
Se arrefeceu
É porque reaquece
Feito sol que ora desce
E no futuro é de novo presente
§§
Autor
-
Carlos Correia Santos é Pedagogo (Uniasselvi / SC), Psicopedagogo Clínico (Fibra/PA) e Musicoterapeuta (Censupeg/SC), especialista em Educação Inclusiva (Ipiranga/PA), especialista em Autismo (IESAT/ES), especialista em Educação Musical e Ensino de Artes (IESAT/ES), especialista em Saúde Mental (IESAT/ES) e pós-graduando em Terapia Analítica do Comportamento Infantil. É ainda Bacharel em Direito (Unama/PA) e Gestor e Produtor de Eventos Culturais (Unama/PA). Na área artística, é poeta, contista, romancista, dramaturgo e músico (cantor, violonista e violinista). Tem se destacado na área da arte-inclusão com pesquisas e espetáculos ligados ao tema. É o criador do Cena Especial – Teatro Inclusivo, projeto de extensão realizado na Fibra com o qual criou o primeiro grupo de teatro inclusivo da região Norte. Com o Cena Especial, escreveu, montou e dirigiu o espetáculo sensorial (conceito que criou) “Pelos Olhos Dela”, que leva o público a mergulhar no universo da cegueira. Ao lado de Andrea Miranda, foi o co-coordenador do projeto Acordes com Sol (que usa a música como ferramenta psicopedagógica no atendimento de pessoas com deficiência), realizado no Núcleo Acessar, da Universidade Federal Rural da Amazônia. É o criador e ministrante da primeira oficina de dramaturgia inclusiva realizada na Região Norte-Nordeste (módulo ofertado na Casa das Artes, órgão cultural do Estado do Pará). É criador e ministrante da Oficina de Criação Poética Sensorial Inclusiva, encampada pelo projeto Arte da Palavra, do Sesc Nacional e levada a diversas cidades brasileiras, como Belo Jardim, Caruaru e Garanhuns (PE), Campina Grande (PB), Balneário Camboriú (SC) e Aracajú (SE). É o criador e coordenador do selo Versivox, com o qual cria espetáculos-saraus que unem literatura, dança, teatro e música. E também coordena a RetroBanda, na qual atua como cantor de releituras de músicas dos anos 50 a 90. Na área literária, venceu o Prêmio Funarte de Dramaturgia por três anos consecutivos (2003, 2004 e 2005), o Prêmio Funarte Petrobras de Fomento ao Teatro (2005), o Prêmio Funarte Petrobras de Circulação Nacional (2006) e duas vezes o Edital Seleção Brasil em Cena do Centro Cultural Banco do Brasil (2007 e 2011). Incluídos no Catálogo da Dramaturgia Brasileira,de Maria Helena Kühner (iniciativa detentora do Prêmio Shell), seus textos já foram apresentados em Belém, São Luís, Natal, Recife, Camaçari, Piracicaba, Curitiba, São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília. Teve espetáculos selecionados no Edital Caixa Cultural nos anos de 2008 e 2009. Em 2009, venceu a categoria dramaturgia, com o texto “Não Conte com o Numero Um No Reino de Numesmópolis”, do III Concurso Literatura para Todos, promovido pelo Ministério da Educação. Suas peças já foram traduzidas para o francês e espanhol. Importantes artistas brasileiros, como Stella Miranda (que interpretou a síndica do humorístico "Toma La, Dá Cá", de Miguel Falabella, exibido na TV Globo), já assinaram direção de suas obras. Carlos Correia Santos é também autor de “Velas na Tapera” (romance vencedor do Prêmio Dalcídio Jurandir), “Senhora de Todos os Passos” (romance vencedor do Prêmio IAP de Edições Culturais 2011), “Nu Nery” (dramaturgia vencedora do Prêmio IAP de Literatura), “Ópera Profano” (dramaturgia vencedora do Prêmio Literário Cidade de Manaus), “Batista” (dramaturgia vencedora do Prêmio IAP de Edições Culturais) e do livro de poemas “Poeticário”. Foi Secretário do Sistema de Bibliotecas do Estado do Pará, coordenador do programa de ações preparatórias para a Feira Pan-Amazônica do Livro e, ainda, o criador, coordenador e apresentador das programações de fomento à leitura “Café com Verso e Prosa”, “Café com Leituras” e “Estrada de Letras Sarau Viajante”. Foi escolhido para ser o Capacitador em Inclusão dos professores do Sistema de Ensino Equipe, instituição ranqueada com o terceiro lugar entre as 10 melhores escolas do Brasil no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).