A música silenciosa do abismo
A música silenciosa do abismo é um livro de poesias que procura refletir quem somos como espécie e o que fazemos neste planeta e no Universo. Extremamente existencialista, A música silenciosa do abismo não encontra respostas, mas apenas a música da efemeridade de seres que procuram a eternidade e só encontram o vale da sombra. Inspirado pelo misticismo bíblico e pela temática filosófica, é como se o livro percorresse da Gênesis ao Apocalipse para descobrir que a vida é um ciclo do início ao fim, o que se descobre que do fim se volta ao início, ou seja, o Apocalipse se torna um novo Gênesis. A natureza e a paisagem são soberanas, o que nos resta é a consciência de que somos pó de uma superfície perene e plácida. A música silenciosa do abismo é um gesto no vazio do infinito do ritmo melancólico da nossa impossibilidade de escolha frente a um universo inteiro e vasto.
“(…) A poeta nos recorda que, desde sempre, aspiramos a ser deuses — como escreveu Carvalho Calero em Reticências: ‘home e deus à par’. Queremos ultrapassar os limites da nossa semente, sem enxergar nossa verdadeira dimensão. Qual é o nosso lugar no universo? Eis uma das perguntas que este livro levanta. Para Adrienne, porém, só encontraremos resposta quando Deus descer para nos transformar na tinta de seu grande lenço, quando nos tornarmos parte da natureza, e não sua oposição.”
— Trecho da orelha escrita por Paulo Mirás
“(…) Neste livro de poemas, Adrienne Savazoni compartilha que, como espécie, não somos os únicos a sofrer diante da vida, sem brilho nesse universo intenso e vasto, escuro que ri do infinito de nossa efemeridade. Há todo um aspecto no livro de Adrienne pela obsessão do sobrenatural, pela ideia de que o universo é um mistério que cabe ao poeta decifrar. Percebe-se, assim, nesta obra um tema comum que percorre o livro todo, o da melancolia que lança sombras na alma, quando a poeta medita sobre a precariedade da existência humana. Seremos apenas um chamado, uma poeira, vento, chuva do abismo, profecia do espírito? Pergunta a poeta enquanto revela o quanto o indivíduo, nesses novos tempos, vai sendo esmagado e anulado e tenta esboçar desesperadamente uma reação. Nos resta em nossos dias e vidas tão insignificantes e inúteis, que Deus nos desenhe nas areias do mar, nas teias do espaço mais que rastros do universo, enquanto assistimos à desierarquização do espaço nobre da poesia: ela se aproxima da vida e, consequentemente, do público.”
— Trecho do prefácio escrito por Guacira Marcondes Machado
Confira quatro poemas do livro:
Ecos da gênese
Em torno das árvores moram os ecos
que não clamam mais do que os deuses
e que não oram mais do que os santos.
É preciso procurar o vento frio das janelas
e os gestos nus que percorrem as estradas
ao encontro das coisas mudas que choram
as sombras das montanhas enluaradas.
Paisagem sem tempo nem dono.
Os ecos morrem nos mares,
e descobrem nos gritos dos sonhos
a dor e a solidão de todos os altares.
Humanos
São vocês; frágeis menções de espasmos na noite. Células imbecis que se uniram no caos da natureza soberba. Frutos do mais criterioso acaso, feitos de azar e lama. Que ainda pensam ser, e pensam desejar ser alguma coisa de útil, alguma coisa boa, alguma coisa superior. Alguma coisa… Apenas, mas ao fim, descobrem que são o próprio fim, o próprio egoísmo, a grande indiferença. São e não são, e são o nada e o tudo, ferem toda existência pensando que estão aqui por alguma coisa, quando não! Quando estão aqui pelo nada, pelo caos, pela noite e pela lama! Mero acaso. Desvio da natureza que não enxergou no meio da escuridão o seu ponto mais escuro, mais frágil, mais úmido de orvalho, mais tendencioso e estúpido. Deveríamos ter sido feitos de esterco e não da ameba. O esterco dá vida às flores, às árvores, ao seio da terra. Enquanto a ameba não passou de dor em carne viva.
Antigamente
A estrada é a mesma de muitos e muitos anos.
Os vales ficam verdes a cada chuva.
E nós caminhamos escondidos para o sempre.
Nossas mãos, enlaçadas, vão se entregando
aos últimos feixes e luzes do poente
e nada mais sabemos do que buscamos
Só sabemos que as árvores estão doentes.
Em formato de cruzes vão abraçando
os resquícios das pegadas dos viventes.
Solitude
Minhas paisagens choram sossegos.
E as sombras param as vozes
que se despedaçam entre os ares.
É preciso tocar todas as nuvens
e prender todas as flores entre os dedos
porque é doce o tempo quando invisível.
— Adrienne Savazoni
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