Crônicas

Carregaram o caixão como quem carrega um dicionário de palavras extintas — só que o caixão era o próprio livro, grosso, pesado, cheirando a mofo e choro de tinta.
Queria ter mais forças, aquela de menino, para enfrentar as adversidades da vida. Quando jovens, não havia o que nos amedrontasse.
Era uma manhã fresca e transparente de primavera. Parei o carro na luz vermelha do semáforo. Olhei para o lado – e lá estava ela, menina, dez anos, não mais.
Antes de qualquer coisa, meus amigos, isso é tudo resistência. “Estou em milhares de cacos, eu estou ao meio”, como diria Adriana Calcanhotto.
estufando o peitinho de penas marrons, soltou seu canto, ainda desafinado pela pouca idade.
E no meio dessa confusão alguém partiu sem se despedir; foi triste. Se houvesse uma despedida talvez fosse mais triste,
Flores envenenadas na jarra. Roxas, azuis, encarnadas, atapetam o ar. Que riqueza de hospital. Nunca vi mais belas.
Não pode acenar da janela com seu jeito simples quando vou para a escola. Já não pode fazer aquele arroz com lentilha que eu demorei tanto a descobrir o quanto gostava