Ítaca
– Como é teu nome, velho?
Ninguém é o nome pelo qual me chamam
Homero
Não há mais como voltar à Ítaca,
perdida em um labirinto de ilhas
nas águas do Jônico ou do Guajará.
Tomado de heras o que era um lar.
Infestada de espíritos maldizentes,
a Polis é só espectros evanescentes,
onde a memória abre todas as portas
a se livrar de suas vozes boquirrotas.
Sem Telêmaco nem Argos, não há lá
nenhum filho ou cão fiel a me esperar
E Penélope a tecer fios de seu manto
atraiu-me, longe dali, ao seu encontro.
Nessa viagem que o mar cego de ira,
Posídon, fez cada dia mais só de ida,
em companhia do perigo e da beleza,
passam Cila, Circe, Calipso e sereias.
E quanto mais o trirreme avança
contra as ondas, maior é a distância
entre mim – Odisseu – e as luzes de Ítaca,
apagando-se em adeuses de quem fica.
Sobrevivente aos dentes dos Lestrigões,
e à fúria do Ciclope, às suas indagações,
respondo que o meu nome é Ninguém
e que o local de retornar não é aquém
Mas, sim, sempre, mais além – Ítaca
está em toda parte, nesta biblioteca,
lugar de destino, folha escrita, estrela
a me guiar por essa infinda odisseia.
Poema de Antônio Moura
Leitura de Sara Lelis
Sara Lelis é Bacharel em Letras – Tradução Espanhol/Português, Mestre em Estudos da Tradução e Doutora em Literatura Comparada pela Universidade de Brasília. Tem dois pós-doutorados pela UnB e pela Universidad Nacional Autónoma de México. É professora do Bacharelado em Tradução na ENES LÉON, UNAM.

Muito bom! Obrigada!