Em 16 de maio de 2025 faleceu a cantora lírica brasileira Maria Lúcia Godoy. Ela se especializou em cantar músicas do compositor brasileiro Villa-Lobos e ficou famosa por sua gravação das Bachianas brasileiras n° 5 desse autor. Participou dos filmes “Os senhores da terra” (1970), de Paulo Thiago; “Navalha na carne” (1997), de Neville de Almeida; “Poeta de 7 faces” (2002), de Paulo Thiago, e “Glauber, o filme – Labirinto do Brasil” (2003), de Sílvio Tendler. Em “Poeta de 7 faces” cantou a “Cantiga do Viúvo” de autoria de Villa-Lobos, com base no poema de Carlos Drummond de Andrade.
Maria Lúcia nasceu em Mesquita (Minas Gerais), em 2 de setembro de 1924 e ainda criança foi para Belo Horizonte e nessa cidade formou-se em Letras Neolatinas na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, atualmente Faculdade de Letras da UFMG. Quando adolescente fazia declamações poéticas em saraus realizados pela família Godoy em Belo Horizonte. Após sua formação na faculdade foi cronista do jornal Estado de Minas por 11 anos. Como poetisa teve poesias suas publicadas nos livros Ninguém reparou na primavera (Editora Lê) e Um passarinho cantou (Editora Rio Gráfica), ambos de 1985.
Maria Lúcia iniciou estudos musicais com Honorina Prates e depois com Pasquale Gambardella, na cidade do Rio de Janeiro. Ganhou uma bolsa de estudos para estudar música na Alemanha. Foi solista principal do Madrigal Renascentista. Casou-se com o maestro Isaac Karabtchevsky, regente desse madrigal. Ela destacou-se como cantora de câmara e solista sinfônica, apresentando-se em grandes cidades do Brasil e de outros países.
Reunia excelente técnica vocal com sua capacidade de interpretação e assim cantava obras clássicas e populares. A renomada soprano Bidu Sayão a considerou “sua única sucessora”. Interpretou papeis importantes de óperas como Lola (Cavalleria Rusticana), Liú (Turandot), Mimi (La Boheme), Rosina ( O Barbeiro de Sevilha) e outros. Cantou obras diversas, como modinhas imperiais e de autores brasileiros de sucesso como Edino Krieger, Cláudio Santoro, Ronaldo Miranda, Waldemar Henrique, Tom Jobim, Milton Nascimento, Chico Buarque de Holanda etc. Também cantou obras complexas como canções sinfônicas. Ela gravou as 14 Serestas, a Bachianas nº 5 e a Suíte Para Voz e Violão, obras de Villa-Lobos.
Quando houve o translado dos restos mortais de Dom Pedro I ao Brasil Maria Lúcia cantou em homenagem ao imperador no Mosteiro dos Jerônimos, em Lisboa, Portugal. Ela, a convite do presidente Juscelino Kubitschek, cantou na cerimônia de inauguração de Brasília e homenageou o diretor de cinema Glauber Rocha cantando Bachianas nº 5 de Villa-Lobos. Recebeu a Medalha de Honra da UFMG em cerimônia no no auditório da reitoria da universidade em 19 de dezembro de 2002 e o título de Doutora Honoris Causa pela UFMG no dia 15 de setembro de 2016 no mesmo auditório, ocasião em que disse: “Sinto-me honrada por fazer parte da cultura do meu país, sempre buscando fazer da música uma ponte para a sensibilidade, o crescimento humano e o encontro com as mais profundas raízes artísticas”.
A voz de Lúcia Godoy foi comparada, pelo poeta Carlos Drummond de Andrade, ao ouro de Minas e por Ferreira Gullar, a um pássaro voando. O professor Mauro Chantal da UFMG disse sobre ela: “Maria Lúcia Godoy se destacou como intérprete única da canção de câmara brasileira, e seu nome é referência para estudo desse material, por sua dicção perfeita e atributos musicais inquestionáveis”.
Maria Lúcia faleceu em Belo Horizonte (MG) com cem anos de idade.
Sugestão de vídeos:
Maria Lúcia Godoy (1976)
Maria Lúcia Godoy – BACHIANAS BRASILEIRAS nº 5 – Cantilena e Martelo – H.Villa-Lobos
Maria Lucia Godoy – SABIÁ – Tom Jobim e Chico Buarque
Maria Lucia Godoy – TORNA A SORRIENTO
_______________________________________
Márcio José Matos Rodrigues – Professor de História