Acesso ou cadastro Autor(a)

Meus contistas preferidos por Luiz Ruffato

Talvez, dos gêneros literários, seja o mais visitado por candidatos a escritor. Devido à pouca extensão, e por consequência à falsa sensação de simplicidade, muitos iniciam-se pela narrativa curta como uma espécie de exercício formal para o romance – o que trata-se de um enorme equívoco, pois seria como alguém se preparar para correr 50 metros rasos acreditando habilitar-se para uma maratona. Narrativas curtas e longas pertencem a distintas naturezas.

Tudo isso, para justificar a lista abaixo – sim, adoro listas –, que enumera os vinte maiores contistas de todos os tempos, segundo o meu ponto de vista, numa singela homenagem aos que ainda cultivam a narrativa breve com a convicção de que filiam-se a um gênero maior, e aos leitores que, como eu, mantêm-se apaixonados pela história curta. Deixei de lado contos de fada (Charles Perrrault, Irmãos Grimm, Hans Christian Andersen) e fábulas (Esopo, La Fontaine), por me limitar a relatos adultos, e também As mil e uma noites, por ser um compêndio de autoria coletiva.

Eis a lista:

AKUTAGAWA, Ryonosuke (1892-1927) – Japonês. Publicou mais de 150 contos, sempre explorando a questão do egoísmo e da deterioração dos costumes da sociedade japonesa no entre-séculos.

BORGES, Jorge Luís (1899-1986) – Argentino. Poeta e ensaísta, escreveu narrativas breves que abarcam temática variada, desde sangrentos duelos nos Pampas até profundas discussões metafísicas.

CARVER, Raymond (1938-1988) – Norte-americano. Poeta e dramaturgo, seus contos minimalistas flagram homens e mulheres em situações absolutamente corriqueiras.

CONRAD, Joseph (1857-1924) – Polonês que escreveu em inglês. Também romancista, sua extensa obra retrata o homem mergulhado na violência provocada pelo entrechoque de culturas.

GUIMARÃES ROSA (1908-1967) – Também romancista, seus contos, partindo do espaço mítico do sertão de Minas Gerais, atingem dimensões de fábulas, fora do tempo.

HEMINGWAY, Ernest (1899-1961) – Norte-americano. Jornalista e romancista, criou um estilo telegráfico próprio de escrita para falar do heroísmo posto em xeque, em batalhas na Europa, em caçadas na África, em bares sórdidos do interior dos EUA.

JOYCE, James (1882-1941) – Irlandês. Romancista, poeta, autor de um único volume de contos, Dublinenses, que incorpora, do jargão eclesiástico, o termo “epifania” para designar o momento exato em que tomamos consciência de algo.

KAFKA, Franz (1883-1924) – Autor judeu de expressão alemã, nascido na República Tcheca. Também romancista, suas narrativas breves, algumas brevíssimas, mostram o homem submetido à máquina do poder. Kafkiano, sinônimo de absurdo, tornou-se palavra universal.

MACHADO DE ASSIS (1839-1908) –Romancista, dramaturgo, ensaísta e cronista, suas análises psicológicas, sob um viés de desencanto, inserem seu nome entre os maiores escritores da literatura universal de todos os tempos.

MANSFIELD, Katherine (1888-1923) – Neozelandesa de origem britânica. Poeta e ensaísta, escreveu cerca de 80 contos que expõem, dentro de uma atmosfera fugidia, a fragilidade da condição humana.

MAUPASSANT, Guy de (1850-1893) – Francês. Romancista e dramaturgo, escreveu mais de 300 contos, todos de valor literário indiscutível, tematizando os mais variados aspectos da sociedade francesa do século XIX.

MELVILLE, Hermann (1819-1891) – Norte-americano. Poeta, romancista, ensaísta, suas narrativas curtas partem de situações concretas (embora muitas vezes estranhas) para mergulhar no oceano ignoto da alma humana.

O’CONNOR, Flannery (1925-1964) – Norte-americana. Autora de uma obra pequena (dois romances e 31 contos), que descrevem a vida no sul dos Estados Unidos, racista, conservador, violento.

PIRANDELLO, Luigi (1867-1936) – Italiano. Romancista, dramaturgo, ensaísta, muitos de seus textos curtos, que exploram o patético da vida cotidiana, foram reutilizados como base para seus romances e peças de teatro.

POE, Edgard Allan (1809-1949) – Norte-americano. Inventou um subgênero da narrativa curta, o conto policial, e aperfeiçoou dois outros subgêneros, o conto de mistério e o conto de ficção científica.

QUIROGA, Horácio (1878-1937) – Uruguaio. Criador de estranhas atmosferas, macabras e violentas, que iriam mais tarde influenciar o surgimento do chamado realismo mágico latino-americano.

RULFO, Juan (1917-1986) – Mexicano. Autor de uma obra exígua e absolutamente original (um romance, uma novela, 17 contos), seus textos recriam um espaço ao mesmo temo real e mítico, onde homens e mulheres sobrevivem apenas como espectros.

SCHULZ, Bruno (1892-1942) – Polonês de origem judia, nascido numa cidade que hoje pertence à Ucrânia. Também crítico literário, escreveu cerca de 30 contos, de fundo autobiográfico, narrando as experiências de uma pequena comunidade judaica de classe média.

TCHEKOV, Anton (1860-1904) – Russo. Também dramaturgo, escreveu mais de duas centenas de narrativas curtas, grande parte delas obras-primas do gênero, abarcando todas as classes sociais da Rússia pré-revolucionária.

TOLSTÓI, Liev (1828-1910) – Russo. Embora mais conhecido como romancista, deixou também uma farta obra composta por pequenos relatos, que tratam dos vários aspectos da complexa sociedade russa do século XIX.

***

Compartilhe esse post!

5 1 voto
Classificação do artigo
Inscrever-se
Notificar de
guest
0 Comentários
mais antigos
mais recentes Mais votado
Feedbacks embutidos
Ver todos os comentários

Outros posts

Cadastre-se como autor(a) no Ver-O-Poema.

Após se cadastrar você poderá enviar suas próprias postagens e nós cuidaremos das configurações.

assine nossa newsletter

postagens recentes

comentários recentes

divulgação

Cabeza de serpiente emplumada, novo livro de poesia de Claidio Daniel (Cajazeiras: Arribaçã, 2025)

vendas

Em Pssica, que na gíria regional quer dizer ‘azar’, ‘maldição’, a narrativa se desdobra em torno do tráfico de mulheres. Uma adolescente é raptada no centro de Belém do Pará e vendida como escrava branca para casas de show e prostituição em Caiena.
Um casal apaixonado. Uma intrusa. Três mentes doentias. Agora em uma edição especial de colecionador com capítulo extra inédito, conheça o thriller de estreia de Colleen Hoover, que se tornou um fenômeno editorial e best-seller mundial.
Editora Rocco relançou toda a sua obra com novo projeto gráfico, posfácios e capas que trazem recortes de pinturas da própria autora
Considerado o livro do ano, que virou febre no TikTok e sozinho já acumulou mais de um milhão de exemplares vendidos no Brasil.
A Biblioteca da Meia-Noite é um romance incrível que fala dos infinitos rumos que a vida pode tomar e da busca incessante pelo rumo certo.
Imagine parar por alguns instantes e desfrutar de um momento diário com alguém que te ama e tem a resposta para todas as tuas aflições.
0
Adoraria saber sua opinião, comente.x