Ela já não pode fazer carinho nos meus cabelos.
Não pode acenar da janela com seu jeito simples quando vou para a escola. Já não pode fazer aquele arroz com lentilha que eu demorei tanto a descobrir o quanto gostava – crianças não apreciam um monte de coisas – depois sentem saudades até do espinafre enrustido na sopa. Já não existem as brevidades escondidas na cozinha para serem saboreadas, depois do jantar, na hora do dever de casa. Eu quero de volta essas mãos! As que costuraram meu vestido de noiva, tão simples, tão Beatles, mas elas agora estão entrelaçadas com as dos anjos.
Preciso urgentemente me ausentar da realidade!
Viro Alice e entro ligeira no espelho. Transformo-me em menina, mais, bem mais. Sou Lucy! E durante noventa minutos estou num céu de diamantes. Mamãe é o mais cintilante deles!
John e George sorriem com meu espanto e avisam:
– Sua imaginação permanece viva e pulsante. Feche os olhos e saboreie alguns morangos encantados. Foram colhidos nos campos dos plantadores de magia.
Ela é eterna.
