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Hans Magnus Enzensberger — Poesia, Provocações e Memórias

Hans Magnus Enzensberger — Poesia e Afetos

Seleção de poemas e notas biográficas

Retrato ou capa de Hans Magnus Enzensberger
Hans Magnus Enzensberger — seleção de poemas e notas.

Biografia resumida

Hans Magnus Enzensberger nasceu em Kaufbeuren em 1929. Após a Segunda Guerra Mundial, estudou literatura e filosofia em Erlangen e na Sorbonne, em Paris. Foi membro do “Grupo 47” e recebeu o Prêmio Georg Büchner aos 33 anos. Sua obra inclui poesia, ensaios, prosa, teatro, livros infantis, traduções e edições — é considerado um dos grandes intelectuais da Alemanha.

Em 1957, Enzensberger publicou seu primeiro volume de poesia, Defesa dos Lobos. Nele, leu minuciosamente o ato de revolta para seus contemporâneos inconscientes no país burguês do milagre econômico e rapidamente se tornou conhecido como um jovem irascível da literatura. Até hoje, é lembrado como um dos poetas mais espirituosos e críticos da língua alemã.


Poemas Selecionados

VISITAS

As que sempre chegam tarde As que desmarcam no último minuto As que só vão dar uma passadinha As que só foram convidadas porque nos convidaram antes As que se chateiam por não terem sido convidadas As que não foram convidadas, mas mesmo assim estão na porta As que vêm cheias de restrições alimentares As que vêm com plantas, bebês e são-bernardos As vizinhas que não conseguem dormir por causa da música As que sempre contam piadas de judeu As que só tomam água mineral As que já estão com os olhos fechando As que se fotografam o tempo todo As que precisam ir fumar na varanda As que sempre sabem quem tem o que com quem As que insistem que isso deve ficar entre nós As que tomaram uísque demais As que ainda precisam dar um pulinho em outro lugar As que ficam até todo mundo ir embora As que são bem-vindas mesmo quando não ligam antes As que fazem falta porque estão debaixo da terra

O NOVO HOMEM

Este novo homem parece estranho. Agradável essa dessemelhança. “A cara do pai.” Tomara que não. Ele trabalha duro, faz barulho. Não temos ideia do que ele quer. Respira, digere, rasteja, geme. Hesitante percebe a duplicidade. Escala palavras, experimenta gangorra, balanço, ousadia, medo. Um dia, mais esperto do que nós, nos surpreende. Então, enquanto morremos aos poucos, ele fica cada vez mais parecido conosco.

OS RICOS

De onde é que continuam surgindo, essas hordas opulentas! Depois de cada desastre rastejam para fora das ruínas, incólumes; escorregam através de cada buraco de agulha, abundantes, abastados, abençoados. Os mais pobres. Ninguém gosta deles. Carregam fardos pesados. Nos insultam, têm culpa de tudo, não podem fazer nada, devem partir. Nós tentamos de tudo. Pregamos para eles, imploramos, e só quando não havia alternativa é que chantageamos, expropriamos, saqueamos. Nós os deixamos sangrando e os pregamos no muro. Mas mal abaixamos as armas e tomamos lugar em suas poltronas constatamos, primeiro incrédulos, depois respirando aliviados, que ninguém é páreo para nós. Sim, sim, a gente se acostuma com tudo. Até a próxima.

MIDDLE CLASS BLUES

Não podemos reclamar. Temos trabalho a fazer. Estamos de barriga cheia. Comemos. A grama cresce, cresce o PIB, a unha do dedo, o passado. As ruas estão vazias. Os contratos estão fechados. As sirenes estão caladas. Isso vai passar. Os mortos fizeram seu testamento. A chuva deu uma trégua. A guerra ainda não foi declarada. Isso não tem pressa. Comemos a grama. Comemos o PIB. Comemos as unhas. Comemos o passado. Não temos nada a esconder. Não temos nada a perder. Não temos nada a dizer. Temos. Deram corda no relógio. Pagaram os boletos. Lavaram os pratos. O último ônibus está passando. Vazio. Não podemos reclamar. O que estamos esperando?

DESARMONIA PREESTABELECIDA

Para cada um que quebra a garrafa de cerveja na cabeça do imigrante, um cirurgião de emergência que sutura o crânio. E vice-versa. Para cada caça-minas que arrisca sua pele, um traficante de armas. E vice-versa. Para cada estuprador, uma mulher com a peixeira na mão, para cada assistente social, um neonazi, para cada um que ganha mais, um fiscal da receita, para cada monstro, uma suave Madona, e vice-versa. Ah, todos nós temos as mãos cheias de coisas por fazer. Não há fim à vista.


Fonte: Hans Magnus Enzensberger — seleção e tradução contextual.

Publicação Ver-O-Poema.

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