30 versos estrondosos e imortais do gênio adolescente Arthur Rimbaud

Jean-Nicolas Arthur Rimbaud, nasceu em 20 de outubro de 1854, poeta influente, escreveu praticamente todas as suas obras entre os 15 e os 18 anos. Aos 20 anos de idade, abandona a literatura e vai para uma vida sem rumo que levava já na adolescência.

“Não tive eu uma vez uma juventude amável, heroica, fabulosa, para ser escrita em folhas de ouro, – sorte a valer! Por que crime, por que erro, mereci a fraqueza atual? Vós que achais que animais dão soluços de dor, que doentes desesperam, que mortos têm pesadelos, tratai de narrar minha queda e meu sono. Quanto a mim, posso explicar-me tanto quanto o mendigo com os seus contínuos Pai-nossos e Ave Marias. Não sei mais falar!

Contudo, creio ter terminado hoje a narração de minha temporada no inferno. Era realmente o inferno: o antigo, aquele cujas portas o filho do homem abriu.

No mesmo deserto, à mesma noite, meus olhos cansados sempre despertam sob a estrela de prata, sempre, sem que se emocionem os Reis da vida, os três magos, o coração, a alma, o espírito. Quando iremos, além das praias e dos montes, saudar o nascimento do trabalho novo, a sabedoria nova, a fuga dos tiranos e dos demônios, o fim da superstição, adorar – os primeiros! – o Natal sobre a terra?

O canto dos céus, a marcha dos povos! Escravos, não amaldiçoemos a vida.”

Uma temporada no inferno & Iluminações – Rimbaud 

Eis 30 versos Versos Imortais de Arthur Rimbaud

1. O eu é um outro.
Je est un autre.
2. Adormecido, eu a vi descer pela encosta das nuvens.
Endormi, j’ai vu descendre un peu des nuages.
3. O infinito me cerca com seus mares sem amor.
L’infini me cerne avec ses mers sans amour.
4. Eu estendi cordas de campanário a campanário; guirlandas de janela a janela;
cadeias de ouro de estrela a estrela, e danço.
J’ai tendu des cordes de clocher à clocher; des guirlandes de fenêtre à fenêtre; des chaînes d’or d’étoile à étoile, et je danse.
5. A eternidade. É o mar misturado ao sol.
L’Éternité. C’est la mer mêlée au soleil.
6. A manhã encheu-se de um odor de vinhedos.
Le matin s’emplissait d’un parfum de vignes.
7. Vi algumas vezes o que o homem acreditou ver!
J’ai vu quelquefois ce que l’homme a cru voir!
8. As flores sonham ainda em seus cravos pesados.
Les fleurs rêvent encore à leurs lourds encensoirs.
9. Eu sozinho tenho a chave desta festa selvagem.
Moi seul ai la clef de cette parade sauvage.
10. Um clarão de ouro caiu sobre minha alma: ela já não está acostumada a tal festim.
Un rayon d’or a chu sur mon âme : elle n’est plus accoutumée à de pareilles fêtes.
11. Eu esperei Deus com gulodice de lobo.
J’attendais Dieu avec gourmandise de loup.
12. Rosas que duram uma tarde, e nós, nós permanecemos.
Des roses qui durent un après-midi, et nous, nous restons.
13. Eu sou o efêmero e o imenso.
Je suis l’éphémère et l’immense.
14. E dançarás, quando a tarde cair, como dançam as crianças ao som da música.
Et tu danseras, le soir tombant, comme dansent les enfants sous la musique.
15. Vi o sol baixo, manchado de horrores místicos, iluminar longos coágulos violetas.
J’ai vu le soleil bas, taché d’horreurs mystiques, illuminer de longs figements violets.
16. Nosso amor é como uma vela ardendo ao vento.
Notre amour est comme une chandelle ardente au vent.
17. Eu fui uma aparição em todas as estradas.
J’étais une apparition sur toutes les routes.
18. Ela flutua, tão bela, tão calma, sobre as águas adormecidas.
Elle flotte, si belle, si calme, sur l’eau dormante.
19. É reencontrada! O quê? — A Eternidade. É o mar partido com o sol.
Elle est retrouvée ! — Quoi ? — L’Éternité. C’est la mer allée avec le soleil.
20. Eu sou um piromaníaco devorador de céu.
Je suis un pyromane dévoreur de ciel.
21. E o Homem sangrou negro o altar dos teus quadris.
Et l’Homme saigné noir à ton flanc souverain.
22. Eu me banhei no Poema da noite.
Je me suis baigné dans le Poème de la mer.
23. As trombetas de prata do alvorecer.
Les trompettes d’argent de l’aube.
24. E o vento beijava-me nu como um mar.
Et le vent me baisait nu comme une mer.
25. As tardes azuis de verão, eu irei pelos caminhos, picado pelo trigo.
Les soirs bleus d’été, j’irai par les sentiers, piqué par les blés.
26. Vi arquipélagos siderais! E ilhas cujos céus delirantes estão abertos ao marinheiro.
J’ai vu des archipels sidéraux ! et des îles dont les cieux délirants sont ouverts au vogueur.
27. Ó água, que corres em mim, silêncio da noite!
Ô fleuve, qui cours en moi, silence de la nuit !
28. Eu via tudo em ouro azul: sem fim, sem rumo.
Je voyais tout en or bleu : sans fin, sans rive.
29. E eu era um barco perdido sob os céus sem piedade.
Et j’étais un bateau perdu sous les cieux sans pitié.
30. Ó luz, ó sombra, ó silêncio! Eu escrevia o indizível.
Ô lumière, ô ombre, ô silence ! J’écrivais l’indicible.

Compartilhe nas redes sociais.

5 1 voto
Classificação do artigo
Inscrever-se
Notificar de
guest
0 Comentários
mais antigos
mais recentes Mais votado
Feedbacks embutidos
Ver todos os comentários

Receba novidades no seu e-mail assine nossa newsletter

posts recentes

livros recentes

Também podes Ler

0
Adoraria saber sua opinião, comente.x