Leituras: 771
Deus tocou novamente meu coração,
num alaúde cósmico trouxe as vozes
da babilônia e do cerrado.
Bem cedo os ventos molhados
fizeram tranças nos cabelos da aurora,
atravessaram as fumaças míopes,
descascaram com as unhas os olhos da lua.
Buscavam a música da agonia.
A lua é uma rainha que nasceu das lágrimas de Deus.
A caverna de Platão apareceu-me em sonho.
No sonho, a vida sofria o desaparecimento
da mulher invicta, num movimento estrangeiro.
Ela abraçou meus dentes,
colocou-os em seu ninho de agonia e seguiu,
tornou-se o esplêndido avesso da sombra da razão.
Do lado minguante do meu cérebro,
mergulhava sobre trilhos de sangue
uma locomotiva tuberculosa,
deixando um clarão de tosse a cada segundo.
As lágrimas encantadoras emudeciam a contra-hora do calor do dia.
Deus tocou os trilhos, o trem das minhas veias,
desgovernou meu espírito, tatuou inteira a minha alma.
Ando sob fagulhas, subo a rua amarela em direção à casa das angústias.
Os postes são polvos com tentáculos incandescentes.
Acima, vem um céu prestes a desmoronar.
As luzes acabaram de assassinar o crepúsculo,
há uma garoa de sangue profanando
a fúria de toda iluminação,
o olfato das pedras enchem os poros de água.
É difícil caminhar encharcado de delírios,
com esse Deus insistindo em se revelar.
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Autor
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Escreve poemas, contos, crônicas. Publicou os livros "Dizerodito - poemas", "Breves cartas de amor", "O que faço com esses versos de amor?", "Eu tenho um segredo para as suas lágrimas - Poesia infantil para adultos lerem", "O Caderno de Benjamim" Nascido na Cidade de Monte Alegre - Pará, mora na capital Belém.