
Os poemas de Roseana Murray abrem portas para o invisível — sentimentos, memórias e encantos da vida cotidiana. Com linguagem delicada, ela transforma o amor, o tempo e a natureza em imagens poéticas intensas. Cada verso é um convite à escuta interior e ao olhar sensível. Sua poesia é chave, milagre, casa e revelação.
A CHAVE
Há que encontrar a chave.
A que abrirá as paredes,
as portas e as janelas,
a que se esconde entre
as notas da harpa
dos sentimentos,
entre as páginas
de um livro,
nos versos de um poema,
entre as camadas do amor,
na água das lágrimas.
MILAGRE
Como numa colcha
de retalhos,
os dias e as noites
se costuram
e nos levam
em suas horas
secas ou caudalosas,
cavalos indomáveis.
Viver é o milagre
que nos guia.
A CASA DE TODOS OS NINHOS
Existe uma casa encantada
que abriga todos os ninhos,
é feita de sol e vento,
calor, areia e tempo.
Suas árvores se vestem
de espinhos, de ervas
com raízes gigantes
(maiores que elefantes),
e flores e cactos
que enfrentam
as tempestades, ondas
e redemoinhos.
A casa de todos os ninhos
agarra as areias das praias,
abraça as dunas e lagoas,
sobe e serpenteia
pelas terras firmes,
coberta de sal, brilha
no sol quente
para proteger
o litoral.
MÁQUINA FOTOGRÁFICA
A máquina fotográfica
do Armarinho Mágico
é bem diferente:
Não faz fotos de paisagens,
bichos ou gente.
Fotografias de sentimentos
é o que faz.
Para cada um, uma cor.
Só vou contar a primeira
fotografia,
não importa se é noite
ou dia,
o amor é sempre dourado.
O resto você inventa.
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Poema falado
