A mais bela prostituta
Do outro lado da rua,
quase em frente à
Igreja de São Leopoldo,
havia uma casa de prostituição e
nela a mulher mais bonita era a Lambretinha.
Assim era conhecida.
Baixinha, cabelos loiros, nariz afinado,
coxas grossas, peitos salientes
que o decote permitia vê-los.
As moças tinham por hábito colocar cadeiras
na frente da casa, na varanda.
Ali sentavam-se
e aguardavam os visitantes.
Eu tinha nove anos e certo dia
estávamos no portão lateral da igreja,
quando um amigo, mais velho,
disse-me, grita, Lambretinha!!!
Gritei. Gritei forte.
Do outro lado da rua levantou-se
a Lambretinha, esbravejando:
vai para a puta que te pariu,
filho da puta.
Não mais a vi.
Era linda.
Agora caminho com passos largos
pelo vasto deserto buscando
um abrigo para proteger-me do calor.
Não há sinal de chuva.
Nem de ventania.
***
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Autor
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Celso de Alencar - Poeta paraense, radicado em São Paulo desde 1972. Sobre ele, o poeta e crítico Claudio Willer afirma que se trata do mais enfático poeta contemporâneo brasileiro. "Escreve com furor messiânico, com a veemência dos profetas". O compositor e poeta Jorge Mautner o considera profeta da quarta dimensão, escandalizador e libertador de almas. Já o cineasta Carlos Reichenbach sintetiza: "Celso de Alencar é, sem nenhum exagero, um dos maiores poetas brasileiros em atividade. Sua poesia blasfema e despudorada é da estirpe de Pasolini, Rimbaud, Leautréamont, Sousândrade, e todos os nossos malditos maiores". O artista plástico Valdir Rocha é taxativo: "loquaz, perverso, mordaz, contundente, imprevisto, surreal, etc.", e o poeta e crítico Carlos Felipe Moisésdecreta: "diabolicamente angelical ou angelicalmente diabólico". Reconhecido entre os grandes talentos da Geração de 1970, é autor de Salve Salve, Arco Vermelho, Os Reis de Abaeté, O Primeiro Inferno e Outros Poemas, CD A Outra Metade do Coração, Sete (com 25 xilogravuras de Valdir Rocha), Testamentos, Poemas Perversos, O Coração dos Outros, Desnudo.