[ COM O PASSAMENTO DO CREPÚSCULO ]
I Crepúsculo vagante, denso e híbrido, como o ofertório do universo singrando o burlesco poente na direção dos infinitos consternáveis. Esse fenômeno no vazio é-me sumamente conhecido como o sótão em que as dúvidas etéreas se manifestam, transmudam anseios em carnes vivas porque suas lágrimas profanas sempre encontram o avesso, mas não se alteram. II Há muito eu já não sou o que era: perdi o fio da meada. Contudo, escolhi ser o que me tornei: gosma de salamandra. Sob as cirandas ao luar as fornalhas balbuciam. E as centelhas esguias assomam, lúdicas e cortáveis, como as crenças retorcidas atingindo as veias humanas na imensidão da manta escura. III Cá estou eu com os olhos desfolhando um segredo, varrendo o sol obscurecido das altas árvores, ocultando as expiações, abrindo pela esperança o oceânico caminho de uma poça de luz ressentida. Estou agora escravo da fuga. É certo que eu não mudarei de inverno com o passamento do silêncio.
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[ SOB O PULSAR MÍTICO DO MEDO ]
Os meus abutres são álamos pusilânimes, dádivas de rostos triangulares que iluminam a contusão dos meus reflexos — ainda assim, de alguma forma, são constâncias de obtusas carnivoridades, entorpecidas como lâminas pulsantes sob grelos de lágrimas. Não importa. Fim de observar o pulsar mítico do medo. Início de fomentar as rosáceas para confundir a arrogância. das agonias mutáveis. Nenhuma fênix da vergonha sabia mais sobre o fogo movediço do tempo até virar pó e dançar lentamente, nua, como as larvas de libélulas escarlates que tendem a flutuar por cercas vivas com suas genitálias cruas em cortiços sem vigilância. E por aí tantos redemoinhos apáticos a esmo; mas os olhos diluídos de um silêncio bruxuleante — avatares gélidos ante a armadilha da luz lírica —, não mudam tão rapidamente. Não importa. Fim de bajular o inferno grávido do medo. Inicio de bombardear sangue vivo sobre os altares imberbes. Cada manto de crepúsculo, um frio cego de cópulas brotando. Como eu, ninguém renunciará a pegar a saída de incêndio, embora ela não possa ser encerrada com as miragens vidradas que desaparecem no escuro dos sentimentos.
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[ A SOMBRA E O SILÊNCIO ]
A Edyr Augusto Proença Não tenho sombra. Sou: um pensativo silêncio que olha para o mundo a partir do seu silêncio; o arqueiro certeiro que não esconde arco & flecha de outros arqueiros; um poeta-mundo que se mantém avesso ao pó (de orgulho) sem destino; uma lágrima desbarrancada que salta como uma asa na transparência do voo; a ávida resistência que, em vez de expelir lava, jorra agoridade furor, ânime & uísque; a métrica incorreta que não sendo necessária dá a sensação de ser antro de perdição que antegoza diante do espelho.
Benny Franklin
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Belíssima poesia e interessante! Partilhado com sucesso!
Grande poeta, poesias infinitas e belíssimas, a alma agradece e comemora.