Poema de homenagem póstuma ao poeta paulistano Régis Bonvicino, falecido em Roma, em razão de uma queda, dia 05 de julho de 2025, durante uma viagem de férias com a família. O poema procura repercutir ou se aproximar da dicção do poeta homenageado.
* * *
Régis a Roma
A Régis Bonvicino, in memoriam
O poeta viaja no dorso de uma borboleta negra, desatenta
Vai, sem boca, à Roma
O ronco de um caminhão descarrega numa esquina da Av. Nova Utopia
a poesia cancelada nas redes
Tráfego. Tenta ler o soneto de Bocage,
escrito pouco antes de morrer, aos 40,
em que se arrepende por ter perdido tanto tempo em lides literárias
A forma e o conteúdo se engalfinham
com milhares de seguidores ao vivo
Faria Lima & Money Laundering Associados convidam Sr. e família
Turista em seu próprio Mondo Bizarro
o poeta entra na pasticceria, compra balas
e segue num dolce far niente
Um estrondo em Gaza,
Um tiro escuro na favela
Deus não devolve o revólver
Uma pop-star sobre o Rio Guamá perturba o sono da floresta,
com sustentabilidade
O mercado precisa de previsibilidade, diz o oráculo
O crime organiza um congresso
A mão do mercado acaba de escrever um novo cânone
Senta-se no banco do parque, dá um tempo, descansa, lê:
“O caso das ‘freiras em fuga’ na Áustria
destaca a difícil situação das religiosas
envelhecidas e em declínio”
Torna a galleggiare per la città
A grande borboleta negra, desatenta, numa curva, tromba
A cabeça tomba
O poeta sai do ruído de Roma e entra para sempre na Cidade Eterna
Antônio Moura
Vai, sem boca, à Roma
O ronco de um caminhão descarrega numa esquina da Av. Nova Utopia
a poesia cancelada nas redes
Tráfego. Tenta ler o soneto de Bocage,
escrito pouco antes de morrer, aos 40,
em que se arrepende por ter perdido tanto tempo em lides literárias
A forma e o conteúdo se engalfinham
com milhares de seguidores ao vivo
Faria Lima & Money Laundering Associados convidam Sr. e família
Turista em seu próprio Mondo Bizarro
o poeta entra na pasticceria, compra balas
e segue num dolce far niente
Um estrondo em Gaza,
Um tiro escuro na favela
Deus não devolve o revólver
Uma pop-star sobre o Rio Guamá perturba o sono da floresta,
com sustentabilidade
O mercado precisa de previsibilidade, diz o oráculo
O crime organiza um congresso
A mão do mercado acaba de escrever um novo cânone
Senta-se no banco do parque, dá um tempo, descansa, lê:
“O caso das ‘freiras em fuga’ na Áustria
destaca a difícil situação das religiosas
envelhecidas e em declínio”
Torna a galleggiare per la città
A grande borboleta negra, desatenta, numa curva, tromba
A cabeça tomba
O poeta sai do ruído de Roma e entra para sempre na Cidade Eterna
Antônio Moura
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