Acesso ou cadastro Autor(a)

‘Difícil hablar con las sombras’: seleção de poemas de Clemencia Tariffa

Difícil hablar con las sombras

Clemencia Tariffa

Os versos de Clemencia Tariffa foram compilados na antologia Difícil hablar con las sombras (2014), que reúne seus livros El ojo de la noche (1987) e Curatel (1999). Trata-se de uma bela obra organizada por seu amigo Hernán Vargascarreño, com quem ela integrava o coletivo Poetas al Exilio (Poetas no Exílio), sediado em Santa Marta. Em Difícil hablar con las sombras, Clemencia se mostra completamente vulnerável: a obra inclui poemas escritos com sua caligrafia infantil, canções dedicadas a ela e uma entrevista póstuma conduzida por Rubén Darío Otálvaro.

Suas palavras revelam sua doença, a pobreza que assolou sua vida e o erotismo que emanava de sua pele. Ela era uma poeta (não gostava de ser chamada de poetisa porque se sentia discriminada) que cantava com fervor e ternura. Sua linguagem é simples, e tudo o que é simples é claro, belo e universal. Clemencia acariciou as faces frias e pálidas de sua mãe, observou pequenas bocas de lata caírem na grama e pendurou uma flor em seu monte de Vênus para provocar seu amante.

⋯ • ⋯

Intrusa

Me habita otra mujer.
Una extraña, una intrusa
que no alcanzo a entender.
    

Intrusa tradução de Bruna Honório

Me habita outra mulher
Uma estranha, uma intrusa
que não consigo compreender.
    

⋯ • ⋯

Velada

¡Hermosa luna de volcanes!
Esta noche no tiene luna
sin embargo
escribo y hablo
a la sombra
que ocupa su lugar.
¡Dulce luna de azúcar!
cubre tu rostro
con un velo seguro
porque de noche
salen los niños
sobre hormigas doradas
y creerán tener derecho
sobre ti.
¡Cóncava luna de agua!
yo estoy aquí
en una patria infiel
en la mira de tus ojos
en un mecedor azul
triste y desnuda
cantando
frente al espejo.
    

Velada (Velada) tradução de Felipe Magalhães

Linda lua de vulcões!
Esta noite não tem lua
no entanto
escrevo e falo
à sombra
que ocupa seu lugar.
Doce lua de açúcar!
cobre teu rosto
com um véu estável
porque à noite
saem as crianças
sobre formigas douradas
e pensarão ter direito
sobre ti.
Côncava lua de água!
eu estou aqui
numa pátria infiel
na mira de teus olhos
num balanço azul
triste e nua
cantando
frente ao espelho.
    

⋯ • ⋯

Vacío

En las noches
des mis días,
maullando,
mendigo
un trocito de luna.
¿ Y qué he conseguido?
    

Vazio tradução de Bruna Honório

Nas noites
dos meus dias,
miando,
mendigo
um trocito de lua
E o que consegui?
    

⋯ • ⋯

Vejez

No miraré al gato enamorado.
No escucharé la paloma de angustia.
Ni desnudaré mi carne blanda.
Ni prestaré mi piel para volver a soñar.
No gritaré al infierno si no lo siento.
Solo podré añorar
un pocillo de hierbas.
Si al levantarme, ya sé
que me vestirán de ángel.
    

Velhice tradução de Gabriel Prado

Não mirarei o gato apaixonado.
Não escutarei a pomba angustiante.
Não despirei minha carne flácida.
Nem emprestarei minha pele para voltar a sonhar.
Não gritarei ao inferno se não o sinto.
Só me faltará
uma tijelinha de ervas.
Se ao levantar-me, eu sei
que me vestirão de anjo.
    

⋯ • ⋯

Rumores

No logro entender,
estoy sentada
en el quicio de la ventana caoba;
sus peldaños son de barro.
Oigo mi nombre por todos lados;
repito, no logro entender qué pasa.
Ni puedo ni debo pensar en los humanos.
Debo sumergirme completa en el mar,
no salir más y vivir allí con las medusas,
pececillos, corales,
o morir como las plantas marinas
rodeada siempre de caracoles.
Estoy triste; me iré por la callejuela que de
aquí diviso.
Caminaré calle arriba, seguramente encontraré
una flor,
una cayena, un fresco lirio.
Creo que si me tocasen me tornaría polvo.
Polvo azul.
Así terminamos las mariposas.
    

Rumores tradução de Estella Vidotti

Não logro entender,
estou sentada
no batente da janela de mogno;
seus degraus são de barro.
Ouço meu nome por todos os lados;
repito, não logro entender o que se passa.
Nem posso nem devo pensar nos humanos.
Devo me submergir por completo no mar,
não sair mais e viver ali com as águas-vivas,
os peixinhos, e corais,
ou morrer como as plantas marinhas
sempre rodeada de caramujos.
Estou triste; irei pelo beco que
avisto daqui.
Caminharei rua acima, com certeza encontrarei
uma flor,
uma caiena, um lírio fresco.
Creio que se me tocassem me tornaria poeira.
Poeira azul.
Assim terminamos as borboletas.
    

⋯ • ⋯

Postagens mais visualizadas da semana

Compartilhe esse post!

5 1 voto
Classificação do artigo
Inscrever-se
Notificar de
guest
0 Comentários
mais antigos
mais recentes Mais votado
Feedbacks embutidos
Ver todos os comentários

Outros posts

Cadastre-se como autor(a) no Ver-O-Poema.

Após se cadastrar você poderá enviar suas próprias postagens e nós cuidaremos das configurações.

assine nossa newsletter

postagens recentes

comentários recentes

divulgação

Cabeza de serpiente emplumada, novo livro de poesia de Claidio Daniel (Cajazeiras: Arribaçã, 2025)

vendas

Em Pssica, que na gíria regional quer dizer ‘azar’, ‘maldição’, a narrativa se desdobra em torno do tráfico de mulheres. Uma adolescente é raptada no centro de Belém do Pará e vendida como escrava branca para casas de show e prostituição em Caiena.
Um casal apaixonado. Uma intrusa. Três mentes doentias. Agora em uma edição especial de colecionador com capítulo extra inédito, conheça o thriller de estreia de Colleen Hoover, que se tornou um fenômeno editorial e best-seller mundial.
Editora Rocco relançou toda a sua obra com novo projeto gráfico, posfácios e capas que trazem recortes de pinturas da própria autora
Considerado o livro do ano, que virou febre no TikTok e sozinho já acumulou mais de um milhão de exemplares vendidos no Brasil.
A Biblioteca da Meia-Noite é um romance incrível que fala dos infinitos rumos que a vida pode tomar e da busca incessante pelo rumo certo.
Imagine parar por alguns instantes e desfrutar de um momento diário com alguém que te ama e tem a resposta para todas as tuas aflições.
0
Adoraria saber sua opinião, comente.x