Entre sapos e estrelas, o coração noturno do nosso jardim
Por aqui, o jardim é grande, divide-se em três. O verde tem vontade própria, as flores perfumam e luzem. As sombras se movem com o vento, o quintal é um amante de nossas quinquilharias e de coisas que já morreram.
Minha Maria Alice (ainda lá pelos cinco anos de idade, agora perto dos dezessete) gostava dos sapos. Cuidava de um casal, Sassá e Sessé. Eles pareciam saber que possuíam uma tutora, uma doninha de olhos curiosos, mãos pequenas e coragem de criança. Maria os segurava de um jeito que só a inocência permite, longe do espanto e perto do amor.
Com o tempo, Sasá e Sessé tiveram filhos. O jardim cresceu, a saparia também. Maria descuidou de ser criança e os deixou de lado. Eles, não. À noite, saem do verde úmido e procuram a ração do Black Júnior e do Mike.
Mike é um cão bonito, saboreando a velhice com paciência e sono. Nada o perturba, ninguém o incomoda. O Black Júnior é nosso cão jovem, um príncipe. Houve um tempo em que andou às turras com os sapos. Era início de uma madrugada, brigaram feio. Black levou a pior, foi envenenado, um corre-corre. Salvou-se. Desde então, vive em paz com os pequenos seres de mármore amarronzado.
Os sapos são noturnos. Saem para conversar com a lua, contar estrelas, ouvir o céu escuro, cantar baixinho. Alguns perderam suas vergonhas e se amam à vista de todos. Outro dia filmei um acasalamento demorado, um abraço úmido e sereno, o chamado amplexo. Black assistiu a tudo, quase impassível. Duvidam? O vídeo está logo aí embaixo.
O dia amanhece num calorzinho, desdenhando da madrugada. Daqui a pouco chegarão os mais de trinta passarinhos para o café da manhã. Com esses, o Black ainda não fez amizade. Mas essa é outra e quem sabe, a próxima história.
E que você tenha um jardim e que ele também conte histórias.
Edmir Carvalho Bezerra
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Assista: Sapos namorando — o amplexo noturno do jardim
Vídeo curto, gravado no jardim de casa — Um abraço úmido e sereno, o chamado amplexo.
