tem um relicário de ossos
debaixo do meu travesseiro
fíbulas tíbias falanges úmeros
e sobre a cova rasa da minha cabeça
uma trupe de esqueletos
dança um tango tétrico na pele da minha insônia
não conheço os donos das ossadas
os mortos não são meus
sou apenas o ventríloquo
o estafeta
um garoto de recados
amplificando mensagens de gente morta
na luz líquida de uma garrafa de absinto
os mortos falam
eu escuto
e esse povo sem carne
tem a mania besta de tagarelar demais
geralmente frases e ideias desconexas
saudade dos vivos
medo de escuro
vontade de tomar café
e a certeza de escaravelhos
e evangelhos de mau agouro
eu escuto
e os mortos falam:
o bem não vencerá
o bem nunca venceu
não tem almoço grátis
não tem final feliz
nada do lado de lá
o amor é um mingau de vento
com amido sem açúcar
para altruístas diabéticos
Deus é fascista
e os filhos da puta sempre estiveram no poder
os mortos falam
eu escuto
e a previsão do tempo diz
que amanhã será uma segunda-feira cinzenta
os inúteis seguirão apertando botões e parafusos
corrigindo cadernos
entregando comida
dirigindo automóveis
construindo torres de vidro
e parindo poemas pra salvar a raça humana
tem uma trupe de esqueletos
dançando um tango tétrico
na pele da minha insônia
e mesmo depois do sol beijar a minha janela
eu seguirei por aqui
traduzindo inutilmente
o dialeto dos mortos
numa garrafa de absinto
debaixo do meu travesseiro
fíbulas tíbias falanges úmeros
e sobre a cova rasa da minha cabeça
uma trupe de esqueletos
dança um tango tétrico na pele da minha insônia
não conheço os donos das ossadas
os mortos não são meus
sou apenas o ventríloquo
o estafeta
um garoto de recados
amplificando mensagens de gente morta
na luz líquida de uma garrafa de absinto
os mortos falam
eu escuto
e esse povo sem carne
tem a mania besta de tagarelar demais
geralmente frases e ideias desconexas
saudade dos vivos
medo de escuro
vontade de tomar café
e a certeza de escaravelhos
e evangelhos de mau agouro
eu escuto
e os mortos falam:
o bem não vencerá
o bem nunca venceu
não tem almoço grátis
não tem final feliz
nada do lado de lá
o amor é um mingau de vento
com amido sem açúcar
para altruístas diabéticos
Deus é fascista
e os filhos da puta sempre estiveram no poder
os mortos falam
eu escuto
e a previsão do tempo diz
que amanhã será uma segunda-feira cinzenta
os inúteis seguirão apertando botões e parafusos
corrigindo cadernos
entregando comida
dirigindo automóveis
construindo torres de vidro
e parindo poemas pra salvar a raça humana
tem uma trupe de esqueletos
dançando um tango tétrico
na pele da minha insônia
e mesmo depois do sol beijar a minha janela
eu seguirei por aqui
traduzindo inutilmente
o dialeto dos mortos
numa garrafa de absinto
✨ 💀 🌙 🥂

Muito bom muito bom poema.