
UM SÉCULO DE SOLTEIRA
Andei chorando por ti a vida inteira
Desde o momento que, de mim, fugiste. . .
Saíste de mim, altiva, e sumiste,
Deixando-me triste, na ribanceira.
Foi um golpe profundo, uma rasteira
Rindo dos meus olhos que coloriste
De tristeza que em mim repartiste
Sem piedade nem dó. . . Uf! Deus queira
Que quando chegares no azul celeste,
Entre o Paraíso e a vida bagaceira,
Ele prefira, amor, o que escolheste (. . . )
Que mais do que vida de barulheira,
Ele revele o que de mim perdeste
E viva um século de solteira.
LEMBRANÇAS
Vivemos um Paraíso enquanto nos amamos
E tudo na vida tinha algo de belo e doce
Mas, aos poucos, o Paraíso acabou-se
E o que seria eterno, num instante, injuriamos.
Se de almas gémeas tornamos rivais
E vemo-nos pela rua como gato e rato,
Quem lembrará e será tão grato
Por esse tempo que vivemos como casais?
Eu guardo comigo grandes lições de vida,
Também guardo comigo grandes momentos. . .
Faça revisão dos seus antigos sentimentos. . .
Quem sorria p'ra mim, toda florida?!
Saiba que, enquanto eu viver e tu víveres,
Haverá sempre algo que nos torne semelhantes:
(não olhe p'ra o lado das coisas humilhantes)
— Lembraremos os mesmos beijos. . . os mesmos prazeres.![]()
SILÊNCIO E ESCURIDÃO
Ao cego que não pode ver
A forma das coisas em seu redor;
A beleza doce duma linda flor;
A Geometria divina das coisas naturais
A Natureza florida... praias, rios, mangais;
As paisagens... savanas e prados;
A abundância dos campos lavrados;
A verdade no rosto de quem mente;
A mentira embrulhada num presente...
... ao cego que não pode ver...
Tudo lhe-é treva... espessa escuridão.
Ao surdo que não pode ouvir
O som intenso e estridente dum trovão;
A melodia cativante duma linda canção;
O grito de dor duma mãe aflita que chora;
O choro de um homem que, ajoelhado, implora;
O rugido duma fera furiosa em arrelia;
A promessa expressa, mais linda que poesia...
. . . ao surdo que não pode ouvir. . .
Tudo lhe-é silêncio...eterno silêncio.
Quantos de nós, no decorrer dos dias,
De olhos vivos, acesos, e ardentes,
Somos cegos ao amor que nos rodeia?
Quantos de nós, nas nossas utopias,
De ouvidos vivos, abertos e presentes
Somos surdos às vozes em apneia?
― Muitos! Muitos!
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Autor
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Octaviano Joba é o pseudônimo de Octávio João Baptista, natural da Cidade de Quelimane. É professor do Ensino Primário (Fundamental), poeta e prosador. Foi colaborador do projecto literário afro-brasileiro IdeiArte-Cultura; e membro da Academia Mundial de Cultura e Literatura. Foi colaborador de diversas revistas literárias electrónicas, e co-autor de antologias nacionais e internacionais. Foi seleccionado em 1º lugar no Primeiro Desafio Literário Internacional da Revista Inversos, com o seu poema "Seu Amor Morto", num universo de 84 inscritos. Participou no 2º Concurso "Novos Talentos de Literatura — José Endoença Martins" (2018-2019), organizado pela FURB— Universidade Regional de Blumenau (Brasil). Foi um dos dez finalistas do concurso de contos do Prêmio Literário Carlos Morgado (PLCM)— "Novas Vozes, Novas Estórias"—, 2ª edição (2024), num universo de 170 inscritos (Moçambique). É colaborador do projeto literário "Folhinha Poética" desde 2016, e autor do blog "Vice-Verso"— Octaviano Joba.
Respostas de 2
Parabéns pelos belos poemas de amor.
Saudações brasileiras!
Grato, Neuzamaria! Agradeço pela leitura! Sou muito novo nesta plataforma! Mas gostei dos textos aqui publicados. Sou de Moçambique.