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“A minha dor é um convento ideal” A rara poesia de Flobela Espanca

Ilustração em homenagem a Florbela Espanca
Florbela Espanca nasceu em Vila Viçosa, Portugal, 8 de dezembro de 1894. A poeta batizada como Flor Bela Lobo se autonomeou Florbela d’Alma da Conceição Espanca. A sua vida, de apenas 36 anos, foi plena, embora tumultuosa, inquieta e cheia de sofrimentos íntimos, transformados em poesia de rara beleza.

A MINHA DOR

A minha Dor é um convento ideal Cheio de claustros, sombras, arcarias, Aonde a pedra em convulsões sombrias Tem linhas dum requinte escultural. Os sinos têm dobres d’agonias Ao gemer, comovidos, o seu mal… E todos têm sons de funeral Ao bater horas, no correr dos dias… A minha Dor é um convento. Há lírios Dum roxo macerado de martírios, Tão belos como nunca os viu ninguém! Nesse triste convento aonde eu moro, Noites e dias rezo e grito e choro! E ninguém ouve… ninguém vê… ninguém…

Ser Poeta

Ser Poeta é ser mais alto, é ser maior Do que os homens! Morder como quem beija! É ser mendigo e dar como quem seja Rei do Reino de Aquém e de Além Dor! É ter de mil desejos o esplendor E não saber sequer que se deseja! É ter cá dentro um astro que flameja, É ter garras e asas de condor! É ter fome, é ter sede de Infinito! Por elmo, as manhãs de oiro e de cetim… É condensar o mundo num só grito! É seres alma e sangue e vida em mim E dizê-lo cantando a toda gente!

Amar!

Eu quero amar, amar perdidamente! Amar só por amar: Aqui… além… Mais Este e Aquele, o Outro e toda a gente… Amar! Amar! E não amar ninguém! Recordar? Esquecer? Indiferente!… Prender ou desprender? É mal? É bem? Quem disser que se pode amar alguém Durante a vida inteira é porque mente! Há uma Primavera em cada vida: É preciso cantá-la assim florida, Pois se Deus nos deu voz, foi pra cantar! E se um dia hei de ser pó, cinza e nada Que seja a minha noite uma alvorada, Que me saiba perder… pra me encontrar…
(Florbela Espanca)

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Celso de Alencar

Grande Florbela! Obrigado por trazê-la, Ver-0-Poema. Bom dia, Companheiras e Companheiros.

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