Era eu bem jovem.
Tinha 11 anos completos
quando no velório
da prima Aurora, morta
pelo violento Rio Guandu,
sua irmã, Ingrid,
de oito anos,
gritou alegremente, bem alto,
dançando e pulando pela sala toda
diante de todos que ali tristes,
inconsoláveis, estavam:
vou ficar com seus vestidos,
saias de linho, blusas, sapatos,
e as revistas do pato donald
e as da luluzinha.
Senti nos rostos que velavam a prima,
um ar de assombro, de repulsa.
Continuei na janela
Comendo bolo de laranja e bebendo
suco gelado de limão com mel.
Foi um dia de intenso calor.
A mortalha dançava com leveza
na porta da casa da prima morta
como uma bailarina voando
num palco de meia-luz.