Abismar-se
Morro todos os dias
de palavras sem métrica
guardadas em containers
de palavras sem métrica
guardadas em containers
Morro pelas pupilas
que enxergam
o que não se pode ver
que enxergam
o que não se pode ver
Morro sem método
ora fechando os olhos
azulejando pensamentos
ora fechando os olhos
azulejando pensamentos
Ou por meio de metáforas
que invadem meu estômago
na pirose diária dos sentidos
que invadem meu estômago
na pirose diária dos sentidos
Morro como um cavalo cego
deitado na relva, descarrilado
pelos saltos em abismos
deitado na relva, descarrilado
pelos saltos em abismos
Sucessões de álgebras afetivas
(que não compreendo)
são minhas mortes diárias
(que não compreendo)
são minhas mortes diárias
Um mundo sem poesia
no submundo dos filamentos
soltos e desengonçados
no submundo dos filamentos
soltos e desengonçados
Morro todas as noites
nas minhas ilhas inventadas
sob hibiscos imaginários
nas minhas ilhas inventadas
sob hibiscos imaginários
Não se recomponha
(diz meu caule indeciso)
Mas minhas raízes suportam?
(diz meu caule indeciso)
Mas minhas raízes suportam?
Morro todos os dias
de ausências, zinabre
a corroerem minha nudez
de ausências, zinabre
a corroerem minha nudez
Na pérgula dos meus sonhos
boca ensimesmada
abre-se devagar a geometria
boca ensimesmada
abre-se devagar a geometria
Já não persigo enigmas
Nem anátemas ou exantemas:
Morro de palavras engasgadas
Nem anátemas ou exantemas:
Morro de palavras engasgadas

Lido! Belíssimo poema!
belo esse poema de Marcia Tigani. Poesia da melhor qualidade. Palmas para ela.