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”As cento e onze picas” – A poesia em estado de choque. Por Celso de Alencar

AS CENTO E ONZE PICAS (Celso de Alencar - Poemas Perversos)
Foram unhas
excitadas do inferno
que deixaram expostas
aos olhos do mundo
as cento e onze picas.

Estão mortas
as cento e onze picas.
Eternamente mortas.
Não veio do gozo
o gemido ouvido
no labirinto.
Foi do vendaval de chumbo
estacado na carne aflita.

Cento e onze bocas mortas.
Cento e onze vaginas órfãs.
Estendidas sobre
o largo piso frio,
enfileiraram-se para o pouso
de insetos de mortos.

Negras, brancas, pálidas,
as cores não importam.
São apenas
cento e onze picas mortas.

Autor

  •  

    Celso de Alencar - Poeta paraense, radicado em São Paulo desde 1972. Sobre ele, o poeta e crítico Claudio Willer afirma que se trata do mais enfático poeta contemporâneo brasileiro. "Escreve com furor messiânico, com a veemência dos profetas". O compositor e poeta Jorge Mautner o considera profeta da quarta dimensão, escandalizador e libertador de almas. Já o cineasta Carlos Reichenbach sintetiza: "Celso de Alencar é, sem nenhum exagero, um dos maiores poetas brasileiros em atividade. Sua poesia blasfema e despudorada é da estirpe de Pasolini, Rimbaud, Leautréamont, Sousândrade, e todos os nossos malditos maiores". O artista plástico Valdir Rocha é taxativo: "loquaz, perverso, mordaz, contundente, imprevisto, surreal, etc.", e o poeta e crítico Carlos Felipe Moisésdecreta: "diabolicamente angelical ou angelicalmente diabólico". Reconhecido entre os grandes talentos da Geração de 1970, é autor de Salve Salve, Arco Vermelho, Os Reis de Abaeté, O Primeiro Inferno e Outros Poemas, CD A Outra Metade do Coração, Sete (com 25 xilogravuras de Valdir Rocha), Testamentos, Poemas Perversos, O Coração dos Outros, Desnudo.

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