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‘CARPE DIEM – ou: meu tributo Beatnick’ em novos poemas Rubenio Marcelo

Carpie Diem

CARPE DIEM – ou: meu tributo Beatnick

(para o poeta Benny Franklin)


1.
Aquele insurgente berro 
vindo das bandas californianas do Pacífico
fecundou o sangue anunciador
dos teus fachos de liberdade...
Fertilizou tuas raízes e ecoou no teu berço 
embalando-te nas ondas-bebop...

2.
Em coito permanente com a palavra,
abates ampulhetas... do tempo as areias vivas
são estrelas escarlates que te guiam
ao cálido útero dos guetos,
onde almoçarás despido de urgências
e viverás Kafka...
Onde comerás a maçã do reino prometido
e te servirás sobre as mesas
metamorfoseadas do teu inconsciente...
Onde contemplarás os ‘melhores espíritos
da tua geração’.

3.
Nem só de homem morre o pão.
Na solidão vive e some. Consome-se... vira palavra.
Sólidas palavras... lavras... parábolas...
Paralelas e alternativas visões
que reinam agora na seiva-história 
que pulsa em ti e que, sem repulsa, te reinaugura.

4.
No Sputnik dos teus sonhos, 
empreenderás viagem
buscando a centelha libertária do amor 
na jazz-batida de corações iguais ao teu.
Sim... pé na estrada!... fé na vida refletida
do palco que gira na luz informe da madrugada... 
À beira dos trilhos fosforescentes,
ogivas quebrarão os espelhos baços da noite
e montarão as pontes do sem-fim
para os vultos que procuram estrelas esquecidas,
ante alazões de olhos de camafeu
rebelados em labirintos abissais...

5.
Na távola das meditações, 
transcenderás,
vivendo o eterno astral das bodas altivas.
Tingirás de orquídeas a tua glândula pineal
e adornarás com impudente piercing
a face da tarde cinza-avermelhada...
Na eclíptica escada da décima-segunda constelação
ou na esfumaçada oficina de arte da sexta galeria, 
domarás as danações das noites fundas 
que sepultam fantasmas e descanções,
que enluvam as mãos das ébrias musas,
que escondem quimeras e mistérios
e respiram partículas de liberdade...

6.
Nas praças, nos templos, em Times Square 
ou nas águas de Alter-do-Chão
teu olhar visionário extrairá os sete véus da poesia...
E, aos sóis do sétimo caminho,
deslacrando sete selos dos fetiches arcanos,
desnudarás as sete faces do poema...

7.
Com os teus ventos rebeldes 
gargalhando na preamar
e soprando as velas d’Le Bateau Ivre,
descobrirás as rotas invictas de Rimbaud...
Com o altruísmo do Príncipe Mishkin
ou buscando fermata em Karamazov,
dostoievskiarás os espectros dos anseios...
Assim, reinventarás a vida nos postulados de Allen, 
nos ideais de Jack, em sintonia com William, 
na livre cadência de Bob...
Assim, plantarás auroras...
Assim, colherás o dia 
sorrindo aos quatro mil (in)ventos...
Assim sentirás a vida em movimento
e a felicidade blowin’ in the wind…
Ah, sim!

® Rubenio Marcelo


UMA INCESSANTE BALADA E SETE CÂNTICOS CONFIDENTES PARA BENJAMIM
(ao poeta Edmir Carvalho Bezerra)

I.
eu te saúdo, Benjamim... arauto de dádivas surreais.
no encontro das tuas sendas insurgentes,
na face elementar dos teus papiros
e na janela flutuante das tuas saudades 
      eu me debruço...
– quem mais do que teu olhar 
   sabe das mirações (re)partidas daquele mirante?

II.
do teu estro-origâmi 
palavras e pássaros transcendem imagens
e compõem o lado invisível
                       da outra margem das coisas...
seivas e símbolos desdobram-se em messes invictas,
semeiam auroras e pontes inexploradas
que reinventam os frutos latentes das antemanhãs
e os destinos do verbo em gravitação...

III.
eu te saúdo
e também conjugo as notícias do teu silêncio:
preciso delas
[para dourar o meu rio... o rumo e o remo
 que impulsionam as imagens espelhadas da solitude]
enquanto acalentas o tempo 
com cantigas da alma
em sintonia com crepúsculos e estribilhos...

IV.
na partitura das águas e das aves
eu te saúdo, Benjamim!...
tuas evocações percorrem  inquietas travessias,
erguem paisagens e acenos,
tecem vigílias e réquiens 
distantes do sétimo dia
no estatuto das lágrimas e ladainhas
dos horizontes sonâmbulos da nossa geração...

V.
eu te saúdo
com uma balada incessante 
        e sete cânticos confidentes
decantando a transfiguração e a clave dos ventos
que se reinauguram nas pedras pulsantes
da invenção da tua inquietude 
e no sol da resistência dos teus sonhos
          em exílio essencial de liberdade...

VI.
eu te saúdo, Benjamim!...  
e transvelejando 
a bombordo e a estibordo
do teu caderno de anunciações da essência
também singro as retinas das sumaúmas
                              e o prelúdio das águas...
transporto-me em levitação de partilhas:
também sou enigma rupestre daquele Monte
e sou tardes de Belém...
sou irmão do teu irmão:
                         pássaro entristecido!

VII.
eu te saúdo!
e dedilhando sagas 
em sons encadernados de elegias
honrarei as senhas das tuas parábolas...
e nada desperdiçarei, nada:
tudo guardarei na memória... tudo!
– pois assim está escrito!

® Rubenio Marcelo


NU EN/CANTO
[ao poeta beat Benny Franklin]

nem flautas de bambu
nem alaúdes embalam teu canto...
é amargo e visionário o teu acorde
é qual uivo flamejante
que estilhaça a soberba 
                      dos deuses fementidos
e ecoa nos abismos 
                      pendurados no tempo...

há fúria 
transformadora de euforias
na palma da língua do teu verso
nos grafites da não-espera
na clave do teu cântico
[brado be(at)nnyfrankliniano
    desnudo
        travesso
           agudo
              possesso
                 inconfesso
  avesso a tópicos utópicos]

com asas de sol
teu livre prelúdio
derrete os anéis de cera dos protocolos 
ofusca as sirenes lacrimogêneas
e
em consciência
abomina a palavra enferma 
que lambe as chagas da hipocrisia.

é míssil o teu canto amolado:
mira a glândula pineal dos tabus...
             é verve insurgente 
             que embala as vielas
& abala as astúcias...
é translúcido delírio
nu en/canto

– não finge orgasmo:
 deslacra-se do túmulo existencial
 extasia-se 
 plenamente...

até o teu silêncio
revigora as trilhas esganiçadas
que fecundam lâminas de liberdade...

® Rubenio Marcelo

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Foto do autor

Rubenio Marcelo é poeta escritor, compositor, ensaísta, revisor e advogado. É membro e o atual Secretário-geral da Academia Sul-Mato-Grossense de Letras. É autor de treze livros publicados, sendo que um dos mais recentes (Vias do Infinito Ser) foi indicado pela Universidade Federal de MS (UFMS) como leitura obrigatória para os vestibulares no triênio 2021/22/23 e também foi indicado ao PASSE UFMS 2024/25. Destacam-se também nas suas obras mais recentes os livros “Graal das Metáforas”, “Horizontes D’Versos”, “Voo de Polens”, “Veleiros da Essência”, “Palavras em Plenitude”, “Caminhos…”, e “Almar – poemas lusitanos…”. Foi Conselheiro Estadual de Cultura de MS. Recentemente, esteve na Argentina, onde a convite integrou o Festival Internacional de Poesia de Buenos Aires, juntamente com outros poetas de vários países também convidados. É um dos autores homenageados no livro ‘Vozes da Literatura’ (FCMS), que também enfoca sua obra e biografia. Reside em Campo Grande-MS.

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Benedicto de Figueiredo

Uma página maravilhosa!!!!
A poesia de Rubênio dá vida às coisas do pensamento e emolduram as viagens do coração.

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