Chico
O ermo sonâmbulo
comunga o facho das águas.
Chico se interna à beira do rio,
amansa os afrontos,
assiste ao odor dos peixes.
Colhe o barulho, a fala, o deus deles.
E eles? De vez em quando,
tornam à superfície, beijam a brisa,
engolem uma porção de menos vento,
esfregam, esfriam o limo dos barcos.
O por do sol timideia,
o acendedor de memórias,
borrando a tarde,
às vezes chora lembranças,
às vezes nem se lembra de chorar.
Antes nem vem estrelas, sequer.
O mundo quer chover. E vai!
Nessa hora,
a tristeza só não pega nos meninos!
Formigas de asas voam dos pingos da chuva.
Só pode!
Chico cruza os braços, mareja saudades.
vai deitar no aperreio de mundos antigos,
sombras envelhecidas.
Chico tem um erro guardado na voz,
um erro bonito,
dá de lembrar
até o fim da vida.
Edmir Carvalho Bezerra
fotografia de Luiz Braga

Bela memória de escrita poética Prezado Preclaro Coordenador.