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DEVANEIOS – A crônica viva de Fernando Dezena

São Paulo, SP  01  de setembro de 2025.

Penso, frente ao tédio dos dias. E se eu fosse para um hotel e me hospedasse para passar o final de semana. O Fernando deixaria de ser Fernando por dois dias. Inventaria um nome. Não no check-in, claro — não sou tão louco. Arrisco-me em pecadilhos menores. O codinome seria para conversas com estranhos. Passar por um empresário, desconhecedor da cidade, perguntando às belas mulheres, onde poderia me divertir na noite paulistana. Talvez um bar, uma casa agitada no Bixiga — quem sabe?

Santo remédio para a monotonia.

— Você é de São Paulo?

— Sim, — responderia ela.

Notaria seus dentes alvos e o sibilar da língua por uma estranha formação de nascença que a fazia soltar um pequeno assobio em todos os “s”. Sua altura, um pouco acima da minha, ganhava cinco centímetros pelo salto filetado e o topete loiro.

— Poderia me ajudar com a indicação de um bom restaurante?

Talvez me questionasse: carne, peixe ou massa? Ou apenas sorrisse ao se virar para ir embora, não me dando atenção. Talvez me varasse com o seu olhar azul, perscrutando se na minha pergunta existia um subtexto, como nos ensinam os bons contistas, que o sentido quase sempre mora nele. Talvez.

Um observador distante, lobby do hotel, ao nos ver sair de braços dados, prenotaria mentalmente sermos velhos amantes. E no alongar-se das horas, madrugada ainda, saberia que seu nome é Diva, e ela me confessaria que, naquela noite, gostaria de esquecer-se de tudo. Eu e ela naquele bar. A música suave, penumbra, a mesa de canto e o entrelaçar de nossos dedos.

— O lanche chegou!

Pensei ser o garçom, jamais pediria um lanche em um momento desses. Não era o garçom. A Letícia gritava da cozinha, com o saco do McDonald’s na mão.

A realidade me sugou como os redemoinhos as folhas secas.

***

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