As borboletas não voam em linha reta
poemas
Nestes dias em que escrevo
com letra miúda
para não fazer bulha
nem mesmo para mim…
    
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Nuvens de gaze
vagam no céu de julho
miro-me no espelho do lago
vejo o que quero ver
guardada em malha de lã
leio a água oracular
trago-me de outros mundos
Pelo espaço
sigo por onde caminho não há
ouço pássaros onde pássaros não há
atravesso épocas
leio vidas no mormaço do olhar
danço entre as estrelas
arrasto a cauda da beleza que cintila
o infinito é poema de um verso só
    
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Abro os braços,
rasgo o véu
voo ao que possa haver
além do que tange o mundo
da conhecida terra toda uma
navego o sonho, nau das noites
ultrapasso a linha abstrata do horizonte
Sou a flor do longe
    
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Panapaná
Entre as borboletas,
cores em movimento
delicadas prendas
Leves visões de poemas
bailarinos nômades feito eu
frágeis princesas do reino encantado
Seres alquímicos
Ovo
abrigo da lagarta opaca
casulo transparente
frágeis perninhas se esticam devagar
Fruir do sopro divino é nascer
a borboleta abre suas asas e voa
levíssima dança
A beleza é tanta que faz cócegas na alma
aura que resplandece
mulheres em metamorfose
se as tocam com aspereza
elas e eu me desfaço
breve aparição da alegria
uma epopeia
vida breve mas intensa
balé de gaze para além deste lugar
onde a vida se fez deserto
    
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Fé
feita no invisível
das coisas esperadas
que não aparecem
rendição na espera
Quando o longe se faz perto
e a força vem do frágil
é que posso voar
    
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Entre os anjos sinto apetite
por serenidade
Água com mel
elixir da vida
tenho o Amor
amor é habitar na vida
Lavo-me com água de sol
busco a mim no ramo de hortelã
Cura a um coração ferido
Palavras que não são minhas
expressam a intuição
a voz que fala calada
Uso compasso e reza
para o pivô infinito
onde se cose a vida
– Em qual parte do agora
irás alcançar-me
Anjo de asas poderosas?
    
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A delicadeza pus dentro do envelope e o coração entreguei em mãos
    
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Componho uma Ópera
usando as palavras
como se fossem notas
E números na marcação infinita
de um tempo que desconheço
…então me traduza
como se fosse música
sons antes de palavras
pausas prolongadas
dedilhar em graves e agudos
em si
eu lá menor
    
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Guardo longe dos olhos
o espaço onde me extravio para o sonho
o instante do milagre
deixo de estar e passo a ser palavras
    
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Letras perdidas
procuram palavras
para acariciar a boca
Conjugam o verbo amar
em loucas escalas do desejo
A noite, folha cor de carbono
imprime versos de todas
as audácias originais
em abrigo
no coração fechado
    
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