Pronto: dezembro chegou. O ano de 2025 se despede pela janela como quem recolhe as últimas luzes da tarde, e 2026 já acena com nova eleição para Presidente da República. Impressionante como o tempo passa — e, ainda mais, como insiste em nos cobrar balanços. Agora é mês das retrospectivas; às vezes, até de acertos de contas silenciosos. Penso, então, no triênio.
De lá para cá, o que fiz de importante na vida pessoal, profissional e, sobretudo, na literatura? Embora eu a trate com seriedade, sigo sendo um amador — mas um amador teimoso, disciplinado, desses que acordam antes do sol para puxar uma história pela mão.
Neste momento, eu, Sibila e Marina Marino estamos voltando para São Paulo, após a Feira Literária de Petrópolis. Os eventos do Afonso Borges são sempre bem engendrados, mas o ponto alto não foi o lançamento dos meus livros: Antes do sol nascer, de crônicas, e De repente o risco, de poesia. Nem poderia, não é verdade? O ápice foi a entrega do Juca Pato para a Sueli Carneiro. Há algo justo e necessário em ver a UBE, finalmente, premiar mulheres — brancas e negras — numa láurea que, por décadas, parecia reservada aos homens brancos que sempre a habitaram.
Dezembro, contudo, ainda promete grandes desafios. É bom encerrar o ano a todo vapor, para não começar o próximo arrastando vagões. E mora no meu Cafofo, quase pronto, um romance que me acompanha há um bom tempo. A protagonista — uma ativista da Zona Leste de São Paulo que sonha em prosperar economicamente sem virar as costas aos desvalidos — me acordou tantas madrugadas que, a esta altura, já é íntima da casa. Vamos ver se alguma editora lhe abre portas.
E, para fechar o ciclo de 2025, tirarei os dez últimos dias para mim. Vou me refugiar em Águas da Prata, terra natal, onde as tardes respiram devagar e a vida se veste de silêncio. Natal e Ano Novo em família, caminhadas pelas serras que circundam a cidade, o clima saudável da estância e suas fontes minerais brotando como pequenas bênçãos subterrâneas.
Ah! Quase me esqueci. No último triênio tornei-me pintor. Sim, senhores: pintor. E militante. Há tantos quadros que já me faltam candidatos para recebê-los. Penso, às vezes, em virar vendedor ambulante da prefeitura, só para dar destino às telas que se acumulam pelo chão da sala. O início sempre é difícil.
Mas há algo que me intriga. Sempre que alguém observa uma pintura, diz:
— Está, a cada dia, melhor.
Interpreto o avesso. Se agora está melhor, é porque as primeiras eram um desastre. Talvez tenha sido mesmo. Mas, se o tempo aperfeiçoa o traço, que dezembro venha — mais um ciclo, mais uma chance de aprender, errar, insistir. Afinal, é assim que seguimos: a cada dia um pouco melhores, mesmo que o passado nos espie com um sorriso de canto de boca.
Fernando Dezena
Petrópolis, RJ, 30 de novembro de 2025.
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