Emily Dickinson foi uma das mais importantes poetas da literatura norte-americana do século XIX. Seus poemas, de linguagem concisa e íntima, concentram-se em temas existenciais — a morte, o amor, a solidão e a imortalidade — e surpreendem pelo uso inventivo do travessão e da métrica irregular. Reclusa em vida, revelou ao mundo, sobretudo após sua morte, uma obra de aguda sensibilidade e pensamento inquieto.
Rosas, pássaros e arco-íris
          Se eu não mais trouxer a Rosa
          Em uma festiva data,
          Será porque ao além da Rosa
          Terei sido chamada —
        
          Se eu deixar de receber nomes
          Que aos botões dão os sábios —
          Será porque os dedos da Morte
          Terão fechado meus lábios —
        
          If I should cease to bring a Rose
          Upon a festal day,
          ‘Twill be because beyond the Rose
          I have been called away —
        
          If I should cease to take the names
          My buds commemorate —
          ‘Twill be because Death’s finger
          Claps my murmuring lip!
        
O arco-íris e as flores
          O arco-íris não me diz
          Se vem chuva ou ventania,
          Mas ele é mais convincente
          Que qualquer Filosofia.
        
          As flores fogem do Fórum —
          Mas eloquentes declaram
          O que nem Catão provaria
          Aqui pássaros passaram!
        
          The rainbow never tells me
          That gust and storm are by —
          Yet is she more convincing
          Than Philosophy.
        
          My flowers turn from Forums —
          Yet eloquent declare
          What Cato couldn’t prove me
          Except the birds were here!
        
O Sabiá e a Noz
          O Sabiá é meu Critério para o Canto —
          Porque eu sou — do mesmo canto —
          Se eu fosse um Cuco
          Seria um maluco —
        
          Ode sabida — rege a Tarde —
          Meu capricho é Botão-de-Ouro —
          Somos flores de campina —
          Se eu fosse uma Inglesa
          Desprezava a Bonina —
        
          The Robin’s my Criterion for Tune —
          Because I grow — where Robins do —
          But, were I Cuckoo born —
          I’d swear by him —
        
          The ode familiar — rules the Noon —
          The Buttercup’s, my Whim for Bloom —
          Because, we’re Orchard sprung —
          But, were I Britain born,
          I’d Daisies spurn —
        
          Na sua Noz — o Outono tem voz —
          Porque — quando ela cai
          A Estação — eu sei — se vai
        
Duas Borboletas passeando à tarde
          Duas Borboletas passeando à tarde
          Valsaram sobre o Curral —
          Pisaram firme o Firmamento
          E pousaram na Luz do Sol —
        
          E logo — juntas se foram
          Rumo ao Mar de Cristal —
          Mas nunca se ouviu falar
          Se chegaram — afinal —
        
          Não me informa nem um Pássaro
          Do seu Rumo no Mar Salso —
          Nem Fragatas, nem Mercantes —
          Sabem se é verdadeiro, ou falso —
        
          Two Butterflies went out at Noon —
          And waltzed above a Farm —
          Then stepped straight through the Firmament
          And rested on a Beam —
        
          And then — together bore away
          Upon a shining Sea —
          Though never yet, in any Port —
          Their coming mentioned — be —
        
								