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“ENIGMAS FUTURISTAS”, Um carrossel de vertigens na poesia de Jorge Amancio

Jorge Amancio – Poeta

Enigmas Futuristas

? qual o teor da efígie (grafite escrito) na esfera de espuma? fascínio nas crendices aprendizes da mesmice das fábulas azeviches ? qual o teor da efígie (espectro invisível) na esfera de espuma? humanoides emitem esguichos tristes timbres tirânicos ? qual o teor da efígie (enigma escritura) na esfera de espuma? no carrossel de vertigens feridas do horror espelham o designer da velhice prescrita ? qual o teor da efígie (relíquia verídica) na esfera de espuma? espaço desértico esquina do êxtase na escalada herege à erupção etérea ? qual o teor da efígie na esfera de espuma?
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PELE DE VIDRO
no céu purpúreo os pássaros vítreos ) arco-íris em voo ( saíam das chamas refletiam no preto do asfalto o ballet do fogo no largo do paysandu uma cratera vulcânica iluminava a igreja dos pretos o quilombo de vidro derretia o aço concreto ardia em perdas na madrugada de primeiro de maio o pele de vidro desabou quietude fumaçaria 90 minutos 24 andares 146 famílias sem teto
❦ ❦ ❦
VÊNUS NEGRA (para Jeanne Duval)
na rua da mulher sem cabeça a cabeleira afro-caribenha mistério erótico na tela de Manet o mar a deixou em Paris beleza crespa sensual amante das amantes palco cor e estigma a mulher do dândi assistia às prostitutas de nossa senhora lorettes expatriadas futuras mães da belle-époque a beleza da pele agrava a nobreza o poeta e a atriz cristalizam o ódio o perfume exótico na cabeleira serpente que dança na varanda onde nasceu? quando morreu? onde foi enterrada? outro dia caminhava na rua da senhora sem cabeça para buscar o amante poeta corroído pelo ópio e haxixe com as flores do mal numa das mãos
❧ ❧ ❧
BONECA ESPECTRAL
O fantasma da favela procura a maleta que guarda a boneca da última tragédia, busca o eco do sossego caído do pesadelo jogado pelo mancebo próximo ao degredo. A floresta enferma torna-se matéria etérea, rasteja pelas veias do planeta rubro flamejante rumo a fronteira do anúncio das trombetas. Esqueletos dilacerados num formigueiro, cães cegos comem cabeças de crianças. A favela vulcânica supera o futuro do chumbo na passagem subterrânea da caverna do absurdo, flerta com a beleza da odisseia onomatopeica do evangelho escrito no dialeto das chamas. A boneca fantasma acéfala do sequestro, celebra na sarjeta a vinheta do sucesso hiberna no poema rarefeito do sossego. A estrela do silêncio denuncia o etnocídio, abutres bíblicos comem cabeças de bonecas.
✦ ✦ ✦
NATUREZA ORNAMENTAL NO VERÃO MEDITERRÂNEO
um verde fim de tarde nas colunas-árvores- -petrificadas do parque güell a penumbra brinca de esconde-esconde nas pedras do calvário um míssil vigia as torres da sagrada família na perfeição tortuosa dos dias extensos no banco-serpente colorido mosaico ouço carinhoso o vento dança pixinguinha surfa entre as curvas da praça-cerâmica enlevo-me com a música do violino encantado pelos acordes instantâneos do pertencimento e meu coração não sei por que no lilás subterrâneo de dragões-camaleões vestidos de mosaico bate feliz
✽ ✽ ✽
DO BARÃO DO ÚLTIMO SAMBA
o banjo toca o último arranjo , prelúdio eurrítmico dos uivos litúrgicos , rimando melindres diálogos carícias , espetáculo ciclópico da melodia. o banjoísta frágil de vinho virtudes vizinhos vícios , zanza zonzo na contradança tátil das cordas , vibrátil compasso passo a passo absorto bêbado cíclico melódico , no código torto do banjo. o último gole no melancólico cálice. uísque de grife da mesmice , no baile da velhice. o banjoísta não ouve o último vibrar das cordas. no chão o banjo-cálice em vitrais silencia.
✧ ✧ ✧
BEIJA FLOR DE ORELHA AZUL
o colibri de monóculo busca no bosque a quietude dos insetos frêmito com tamanha iguaria aranha-cereja dieta proteica a ninfeta sem orelhas pousa de asas entreaberta flerta com o pássaro-poeta de flor em flor chovem polens o néctar vital, beijo lilás o beija-flor namoradeiro para vibrando acrobacias de encanto teias de aranha, musgos, líquens cálice-ninho na forquilha da árvore

Jorge Amancio

Foto do autor

Jorge Amancio Graduado em Física, com pós graduação em Matemática para Professores e em Problemas de Geometria, todos pela Universidade de Brasília. A formação não acadêmica se constitui na literatura, na poesia especificamente, tendo publicado NEGROJORGEN e BATOM D’AMOR E MORTE poesias ambos pela Thesaurus ed. 2007 e 2014 respectivamente, NÓSOUTRXS Semim ed. 2018, HAIKUS EM PRETO E BRANCO, AVA editora 2023 editora e o mais recente O LEOPARDO QUE MATA MOSCAS INOPORTUNAS, editora Aldeia de Palavra 2023, tendo participado de inúmeras antologias, poemas publicados em revistas e jornais. Destaques: Coordenador do Poemação – Um Sarau Videoliteromusical Curador da Bienal do B de Poesia na Rua – a única bienal anual (2011/2014 a 2018) Grupo Os Três Mal-Amados – Web Transmitido pela plataforma Zoom New Brazilian Poems (a Bilingual Anthology after Elizabeth Bishop) org. Abhay K. – Ibis Libris ed. – 2019 Novas Vozes da Poesia Brasileira (uma antologia crítica) organizador Claudio Daniel ed. Arribaçã, 2024 Poemas publicados no Correio Braziliense – Diversão&arte – seção Tantas Palavras. Prêmio Ajodum – Premiação da Cultura Negra – 2023 Prêmio Cultura Afro–Brasileira 2018, Secretaria de Cultura DF

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