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Eugénio de Andrade: A clareza sensorial em “Como se houvesse uma tempestade” e outros Poemas

Retrato de Eugénio de Andrade, poeta português

Eugénio de Andrade (1923–2005), cujo nome de nascimento era José Fontinhas, foi um dos mais importantes poetas portugueses do século XX, reconhecido por uma escrita de extrema limpidez, musicalidade e intensidade sensorial.

Como se houvesse uma tempestade

Como se houvesse uma tempestade escurecendo os teus cabelos, ou, se preferes, minha boca nos teus olhos carregada de flor e dos teus dedos; como se houvesse uma criança cega aos tropeções dentro de ti, eu falei em neve – e tu calavas a voz onde contigo me perdi. Como se a noite se viesse e te levasse, eu era só fome o que sentia; Digo-te adeus, como se não voltasse ao país onde teu corpo principia. Como se houvesse nuvens sobre nuvens e sobre as nuvens mar perfeito, ou, se preferes, a tua boca clara singrando largamente no meu peito.

Rosa do Mundo

Rosa. Rosa do mundo. Queimada. Suja de tanta palavra. Primeiro orvalho sobre o rosto. que foi pétala a pétala lenço de soluços. Obscena rosa. Repartida Amada. Boca ferida, sopro de ninguém. Quase nada.

Nas ervas

Escalar-te lábio a lábio, percorrer-te: eis a cintura o lume breve entre as nádegas e o ventre, o peito, o dorso descer aos flancos, enterrar os olhos na pedra fresca dos teus olhos, entregar-me poro a poro ao furor da tua boca, esquecer a mão errante na festa ou na fresta aberta à doce penetração das águas duras, respirar como quem tropeça no escuro, gritar às portas da alegria, da solidão. porque é terrivel subir assim às hastes da loucura, do fogo descer à neve. abandonar-me agora nas ervas ao orvalho – a glande leve.

Introdução ao canto

Ergue-te de mim, substância pura do meu canto. Luz terrestre, fragrância. Ergue-te, jasmim. Ergue-te, e aquece a cal e a pedra, as mãos e a alma. Inunda, reina, amanhece. Ao menos tu sê ave, primavera excessiva. Ergue-te de mim: canta, delira, arde.

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