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“Faz chuva de poesia…” com a poeta Ana Cleusa Bardini

Ana Cleusa Bardini

Farofa de poesia

Em breve o verso virá à tona (…) Se plantar bananeira no quintal, terei palmito de bananeira banana ao natural ou farofa de banana Sei lá o que mais, faria uma “banoffe”, minha especialidade? E o que farás com a poesia numa hora dessas com toda essa desgraceira na Terra? Faz chuva de de poesia: pega uma, duas, ou algumas tantas, acrescenta ousadia, faz uma farofa depois sopra…

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Deserto

Sob o sol Sobre a terra árida Sobre estar seco Dentro e fora Sobre não saber Onde foi o desvio, Se pela orla do rio Ou quando o outono caía Ia avançando Sem se dar conta De existir Crescia o deserto Rente Ao seu olhar ausente Ia indo indo indo E só muito longe viu Que já não estava Que seu amor Não acenava na calçada. Que não havia calçada As flores Molhadas de chuva Não existiam. Também, não havia luz Dentro da chuva E a chuva não caía…

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Os lírios não estavam lá

Minúsculas lascas de lápis caídas do apontador esculpiram árvore escarlate e um flamejante tapete de pétalas caídas; Era arte. Imaginação de um sonhador num fim de tarde; Não havia névoa nesse dia nem chuma vespertina, era uma cortina de fumaça fingindo-se neblina que desfilava no horizonte ruborizado; Rubra, vermelha escarlate era a tarde que caía. Não ouvimos a prece. Emudeceu o sino. Não rezamos ave-maria

✧ ✦ ✧

Sob tuas asas

Queria caminhar sob tua luz; Teus passos parecem precisos; Parece-me confortável estar a teu lado; Cada passo teu é minha casa, um lugar seguro, candeeiro suave, um ensaio de luz guiando o improvável, a mostrar que aqui ou ali não há perigo.

❁ ❦ ❁

Ouve-se

Das aves de rapina o grasnar por detrás das pedras de limo esquecido Lúgubre acorde houve-se. É o canto das sereias ávidas de águas É o Ararat das almas que sangram esquecidas no desvio do rio

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Incompletude

Observo minhas mãos vazias, prenhas de uma solidão não galgada por inteiro. [Vejo-me no meu amor, que repousa na inocência desse “um verso” perverso] Olho minhas mãos, um dia aladas, hoje acorrentadas como asas incendiárias presas aos desígnios do grande senhor. O tempo pulsa estático. Minhas mãos vazias brincam nas mãos do tempo; essa sensação seda cetim de sétimo céu e aragens afins ensaia um anúncio de vida em mim. Uma réstia de sede e luz aresta-me ainda; chama-me em chamas uma saudade inteira, essa espécie de saudades da mão que não afagou(…)

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O sopro da delicadeza

A delicadeza me chamou pra que sentasse a seus pés, como eu fazia com os anciãos na minha infância; Tomou minhas mãos, que agora pareciam pequeninas, pediu-me que lembrasse da criança que fui, da menininha livre, tagarela que andava sobre os trilhos, que contava dormentes, que falava sozinha, que dava muitas risadas e cantarolava o dia inteiro, que colhida florzinhas brancas de um pé de leiteiro nos fundos da olaria do pai e salpicava-as nos cabelos cor de puxa-puxa dourada, nos cabelos por inteiro Hoje a delicadeza me chamou e soprou-me: a menina ainda mora aí (….).

✦ ❁ ❦ ❁ ✦

Há corredores de luz

Ramagens líricas perfumam a Terra num pulsar de céus e chuvas amenas Há um serenar de águas, o extinguir de fumaças num redemoinho de brisa Há um corredor de sol manifesto por detrás da neblina; folhas de outono aguardam o fim da guerra e caem preparando o solo para nova profusão de lírios Há corredores de luz sobre a Terra

© Ana Cleusa Bardini

Foto do autor

Ana Cleusa Bardini é natural de Pedras Grandes, reside em Tubarão, Sul Catarinense. Apaixonou-se pela escrita quando devorava livros da biblioteca do Colégio Imaculado Coração de Maria. Tem participação em coletivos e antologias e revista online. É autora do Livro Em Lírios e Brumas.

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Elke Lubitz

Maravilhosa poeta.

Ana Cleusa Bardini

Obrigada, querida!🌹

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