GRADAÇÃO — A CARTA — SOBREI SÓ EU — POR QUÊ?
    Quatro poemas de Octaviano Joba — ecos de amor, solidão e lembrança.
GRADAÇÃO
Amou–me como guerreira. —Militante. Amou–me com um amor eterno e brilhante. Amou–me apaixonada, num instante. Amou–me tanto, de coração.— Amante! Amou–me em prestações, um pouco distante, Amou–me com beijo de camarão: Picante! Amou–me com olhos de atum congelado… Que já me senti, num instante, abandonado Com o coração entristecido, aguado e magoado! Amou–me com tal encanto que ficou comprovado Que me inscreveu no inferno, mas fui rejeitado. Amou–me à sua maneira: Como amante, amiga, marandza , companheira passageira… Que não foi necessário que eu levasse a vida inteira Para compreender que tudo tem fim. . . torna-se poeira (. . .) Amou–me. . . Pouco e tanto. . . Com pranto e encanto! Mas hoje, já não posso ver o seu reboliço andando E ela não pode ver como sou bonito cantando, Revivendo o seu amor, o da linha primeira (. . .)
A CARTA
Querida amiga, minha flor Escrevo-te esta carta na maior dor. Eu não sabia das surpresas da vida Que tudo pode acabar num momento Foi tão breve a sua partida Que eu fiquei aqui no tormento Lembrando as flores que plantamos; A brisa do mar espalhada pela praia; O verbo amar que juntos conjugamos; O leve esvoaçar solene da sua saia… Os seus fulvos cabelos em meu leito; O doce canto do galo pela madrugada; …silêncios são segredos do peito… Puros suspiros, saliva partilhada… Mas hoje eu sinto o frio da sua ausência Ainda que, pelo dia, brilhe o sol quente E esta tristeza me espanca sem clemência E me deixa cada vez mais triste, doente… É como se estivesse perdido num caminho; Abandonado no deserto e sem sorte E a cada passo sinto na veia um espinho, Uma dor intermitente anunciando a morte… Há vezes que eu perco o oxigénio E vejo esmorrecendo o meu coração: Amor eterno dura mais que um milénio E não apaga, nunca, o fogo da paixão… Vejo-te tão distante, tão longe E não sei se poderei te alcançar… Pelas noites medito como um monge E me ponho, às vezes, a versejar. Passo os dias consolando a minha dor Passo os dias procurando ser feliz E desse consolo eu só penso em ti, amor A cura que procuro para curar a cicatriz… E neste monte de tristezas, em resumo Sinto na alma um inferno…confesso Que sou um anjo perdido, sem rumo À espera da sua luz, do seu regresso. Com os saudosos e melhores cumprimentos Vão nesta carta minhas mágoas e sentimentos. Receba os beijinhos do poeta que chora E implora pelo seu perdão nesta hora. Marandza— interesseira
SOBREI SÓ EU
Sobrei só eu que amava-te de coração Eu que, sendo humilde, sincero e honesto, Disseste-me que, se presto. . . p’ra nada presto, Sobrei só eu e está amarga mágoa no coração. Sobrei só eu que amava-te com paixão, Eu que, vendo flores passando por mim, Fechei os meus olhos e fiz de ti a jasmim. . . Sobrei só eu e as tábuas soltas do caixão. . . O seu amor de fantasia, de mentira, de ficção Doeu dentro em mim nas pancadas que me deu. . . Foi um golpe tão profundo. . . Juro eu que doeu Quando tudo ficou evidente, aos olhos, num clarão. Julgavas que éras a máxima, a rainha do xadrez Que enquanto eu chorava, tu sorrias indiferente Na sua seca felicidade de sorriso adolescente, Que o tempo levou e deixou-te a insensatez. . . Sobrei só eu que já não vejo nenhum João Eu que, lendo os seus olhos com cara indulgente, Vejo dentro em ti uma alma adolescente Por isso guardo-me no sossego da minha solidão.
PORQUÊ?
Por quê me olhas assim tão perturbada Com esse ar que inspira vilania? Por quê abraças tão forte a agonia, Se sorriste,- enquanto chorei-, pela palmada?! Por quê me deseja, desditosa, o desdém E quer que eu vá p’ra lá, p’ra o Inferno? Por quê é que, desse amor que era eterno, Quer que eu morra, vá p’ra o Quente Além?! Por quê o ódio, tamanha judiação? Por quê esse bloco de rancor no seu ventre? Veja o lado bom da vida…se concentre! Talvez brilhe p’ra si uma nova paixão… Por quê andas triste, de tropeço em tropeço, Rogando a Deus de segundo em segundo? Por quê destruiste tão cedo o seu mundo E hoje pagas em prestações o triste preço? Por quê esse riso adolescente tornado pranto Escraviza o seu peito de mulher que és? Vejo um lago de lágrimas em seus pés Enquanto ensaio um Salmo, um canto… Se acaso passo por ti, finges que não me vês E eu engulo a seco esse amargo desprezo Mas, todos os dias, em silêncio, eu rezo Que um dia descubras as respostas dos “porquês” Octaviano Joba
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Conhecendo e gostando de ler Octaviano Joba.