“Homens matam sem pudor…” Leia a poesia de Wilson Luques

Homens matam sem pudor
Homens sem pudor
Matam
Outros homens
Outras crianças
Outras mulheres
Outras florestas
Outros pretos
Outros brancos
Outros amarelos
Outros verdes
Outros azuis
Outros arco-íris
Matam
Outros desvalidos
Outras cidades
Outros países
Outros estados
Outras nações
Outras tribos
Outros jovens
Outras culturas
Matam sem pudor
Sem pudor matam
Outras identidades
Matam poetas
Escritores
Artistas
Indecentes
Matam com armas na boca
Inocentes
Matam de trás
Matam de frente
Matam escondidos
Com tiros no ouvido
Matam com armas em punho
Matam com drones
Matam com furos
Matam a distância
Como numa brincadeira de infância
Matam com mísseis
Matam
Terríveis
Homens matam sem pudor
Sem pudor matam em seu furor
E ainda continuam matando

 

§§

FORMIGAS

Formigas não casam
e também
ipso facto
não divorciam

Formigas vivem
num universo
à parte
da
humanidade

Formigas não sabem
o que é ética
ou moralidade
Será que as formigas
sabem
se têm idade?

§§

O LEITOR GUINNESS BOOK

O dia tem 24 horas.

E ele leu durante o ano toda a enciclopédia britânica.

Terminou dois doutorados sanduíches.
Não digo sanduíches McDonald’s.
Sim!
Dois doutorados sanduíches.
Sendo um na Alemanha e outro no Reino Unido.
Fez 64 lives no mês.
Leu também em menos de dois dias toda obra de Gabriel Garcia Marquez.
Aliás, não há livro melhor para ele.
Cem anos de solidão ele já deve ter lido 30 ou mais vezes só no ano passado.
E o melhor: ainda tem tempo para fazer comentários dos livros que leu na última semana.
Não é que eu não aceitei entrar no grupo de seu WhatsApp sobre os maiores leitores do mundo.
Eu confesso que declinei o convite, só porque ainda não passei das 10 primeiras linhas das Viagens de Gulliver.
Com efeito, ou eu sou um mísero lilliput ou tenho mesmo andado muito lento ultimamente.

§§

POEMA É UMA COISA SIMPLES DE FAZER

Um poema é uma coisa pequena
Por exemplo, um soneto
Tem 14 versos
Me diga
Quem não faz 14 versos
Esprimidinhos um no outro
Isso porque estamos falando de soneto
Não estamos falando de um verso livre
Aí todo mundo faria
Vou te dizer uma coisa
Um verso assim
Até eu faria
Aliás quem não faz 14 versos esprimidinhos um no outro
Eu quero ver você fazer uma ferrari
Isso sim valeria a pena
Ou uma lamborghini
Ou um rolls-royce
De fato um poema é uma coisa simples de fazer
Quem é que não faz uma epopeia de gilgamesh
Eu quero ver fazer um rolls-royce uma lamborghini ou uma ferrari
Poema é simples de fazer

§§

O VENCEDOR

Venceu o quinto concurso de Literatura
neolatina e foi menção honrosa no
segundo festival de Literatura em prol de
um mundo melhor sob os auspícios
grandiosos do encontro municipal off on
line do vigésimo oitavo encontro dos
escritores nascidos gêmeos no terceiro
trimestre que comemorou o jubileu de
prata da quinquagésima oitava
conferência on line dos poetas com a
letra k no sobrenome. Dentre outros
prêmios, venceu o septuagésimo oitavo
encontro dos poetas que fizeram mais
de vinte lives na pandemia.
Infelizmente, não deixou filhos,
herdeiros nem leitores.
Wilson
OS MAIORES CAMPEÕES DE TODOS OS TEMPOS
Nos dias atuais, quem não quer ser o melhor?
Existem listas e listas sobre os melhores de todos os tempos na música, no futebol, no hipismo, na luta etc.
Todos querem ser os melhores.
Ninguém quer ser o pior de todos os tempos.
Na literatura não é diferente.
Quem foi melhor Machado ou Guimarães?
Drummond ou Bandeira?
E por aí vai..
E hoje também não é diferente.
Quem é o melhor poeta da atual literatura brasileira?
Quem é o melhor escritor?
Todos querem ser os melhores.
Todos querem ser laureados.
Todos querem reconhecimento.
Todos querem estar nas mídias.
Sendo assim, só nos resta cantar ou escrever em seus epitáfios:
YOU ARE DE CHAMPIONS, MY FRIENDS!

Autor

  • Wilson Luques

    Wilson Luques Costa nasceu em São Paulo em 15/02/1960. Jornalista , professor, poeta e escritor. É membro 167 da Academia Internacional de Literatura Brasileira- Focus Brasil - NY. Em 2021, foi eleito por essa mesma Academia um dos Top Five dos Destaques Literários do ano na categoria Ensino e Pesquisa com o ensaio O Paradoxo do zero. Possui textos publicados na Revista Coyote, O Escritor, Jornal Linguagem Viva, Jornal da Poesia, Poesia do Brasil entre outros.

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