Vazante
Ao que tem sede, a recrudescência da sede. O peixe de salina, na vaga, expia, da escama, a boca sufragada do expiado. O rezo em sal, a ida ao barco, ao copo emborcado do copo, salitrando, à altura das vagas, o corpo sedento. Ao que tem sede, a vaza, a baixa das marés, a ova oleada das peixes. Abster-se de si, por si, em sequioso exílio. Como, então, emergir, da água (ou dela banhar-se) se à carne o batismo foi negado?
ófris
do aéreo ao mediterrâneo sibila a orquídea seu voo de sépalas. também a palavra tem formato de moscas e zune sibila em sépia poesia tinta sua escritura rumorosa: asa-fulva-flor de mar interior.
ultramarina
então o mar, inaê é azulina de mágoa salina escumada de boca, água de língua vega solidão de alga vaga, a lua quando míngua
oral
a Martha Galrão
o amor nasce do céu- -da-boca aguada úmida-furna-úmida da serpe papilada loca valada de saliva sublíngua a Língua sublíngua o amor amarasmado da partida o beijo-cuspo e glossal do amor banhado a marinheira náufraga de lambida
búzio
o mar não passa dessa convulsão azul úmidas nereidas trôpegas búzios sumarentos. assombra a poeta o ingresso em seu sonho enxuto translúcido vago. o mar escuta.
azul
do Forte, Salma espera o corsário a retirada do véu, um braço envolto na cintura. sente calor com o djellaba o robe escuro em contraste com o mar mulçumano. sim, em Rabat o mar também é azul como aquele anil, de outro poema, dissolvido na água.
pedra palavra
sejam apenas pedra as cinco pedrinhas do calhau ilhéu de fulvo ouro no semidouro do aluvião poesia pluvial palavra como seixos na enxurrada
Quilha
a Clarissa Macedo
É da sirena a água turva o coração sangrado nos cachopos. A da maré a que enche o cofo no abolho. A que reza em claro e iça a noite pela quilha. Minério em flor uma sirena, duas escuma como peixe como barco singra.
vermelha
a poesia marítima chasca na proa tem siba-tinta escamas nos tentáculos atentas barbatanas arriscadas içadas como bandeiras rubras
fisgada
o poeta pescador guarda o seu sonho a sal e água e não descobre o sagrado mistério da concha. traz a rota, a vela o astrolábio a carta de marear mas tudo é tão impreciso quanto as anêmonas.
Poemas que navegam entre o mar, o corpo e o sagrado.
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