Acesso ou cadastro Autor(a)

“Mar, Boca, Concha: A Poesia Marítima e Surreal, por Iolanda Costa”

Vazante

Iolanda Costa, poeta marítima contemporânea

Ao que tem sede, a recrudescência da sede. O peixe de salina, na vaga, expia, da escama, a boca sufragada do expiado. O rezo em sal, a ida ao barco, ao copo emborcado do copo, salitrando, à altura das vagas, o corpo sedento. Ao que tem sede, a vaza, a baixa das marés, a ova oleada das peixes. Abster-se de si, por si, em sequioso exílio. Como, então, emergir, da água (ou dela banhar-se) se à carne o batismo foi negado?

ófris

do aéreo ao mediterrâneo sibila a orquídea seu voo de sépalas. também a palavra tem formato de moscas e zune sibila em sépia poesia tinta sua escritura rumorosa: asa-fulva-flor de mar interior.

ultramarina

então o mar, inaê é azulina de mágoa salina escumada de boca, água de língua vega solidão de alga vaga, a lua quando míngua

oral
a Martha Galrão

Retrato de Iolanda Costa, poeta portuguesa

o amor nasce do céu- -da-boca aguada úmida-furna-úmida da serpe papilada loca valada de saliva sublíngua a Língua sublíngua o amor amarasmado da partida o beijo-cuspo e glossal do amor banhado a marinheira náufraga de lambida

búzio

o mar não passa dessa convulsão azul úmidas nereidas trôpegas búzios sumarentos. assombra a poeta o ingresso em seu sonho enxuto translúcido vago. o mar escuta.

azul

Iolanda Costa em ambiente marítimo, poesia contemporânea

do Forte, Salma espera o corsário a retirada do véu, um braço envolto na cintura. sente calor com o djellaba o robe escuro em contraste com o mar mulçumano. sim, em Rabat o mar também é azul como aquele anil, de outro poema, dissolvido na água.

pedra palavra

sejam apenas pedra as cinco pedrinhas do calhau ilhéu de fulvo ouro no semidouro do aluvião poesia pluvial palavra como seixos na enxurrada

Quilha
a Clarissa Macedo

É da sirena a água turva o coração sangrado nos cachopos. A da maré a que enche o cofo no abolho. A que reza em claro e iça a noite pela quilha. Minério em flor uma sirena, duas escuma como peixe como barco singra.

vermelha

Iolanda Costa, autora de poesia marítima e surreal

a poesia marítima chasca na proa tem siba-tinta escamas nos tentáculos atentas barbatanas arriscadas içadas como bandeiras rubras

fisgada

o poeta pescador guarda o seu sonho a sal e água e não descobre o sagrado mistério da concha. traz a rota, a vela o astrolábio a carta de marear mas tudo é tão impreciso quanto as anêmonas.

Poemas que navegam entre o mar, o corpo e o sagrado.

Participe, deixe seu comentário e compartilhe com quem ama a poesia contemporânea.

Foto do autor

Iolanda Costa (Itabuna-BA). Editou, artesanalmente, folhetos de poesia Às Canhas as Palavras Realizam Mil Façanhas (1990), A Óleo e Brasa (1991) e Antese (1993). Tem poemas editados em jornais, agendas, antologias, revistas impressas e eletrônicas e sites. É autora de Cinema: Sedução, Lazer e Entretenimento no Cotidiano Itabunense (2000), Poemas Sem Nenhum Cuidado (2004), Amarelo Por Dentro (2009), Filosofia Líquida (2012) e Colar de Absinto (2017). Coordenou a coleção de plaquetes poéticas Pedra Palavra (2012 -2020).

Compartilhe esse post!

5 1 voto
Classificação do artigo
Inscrever-se
Notificar de
guest
0 Comentários
mais antigos
mais recentes Mais votado
Feedbacks embutidos
Ver todos os comentários

Outros posts

Cadastre-se como autor(a) no Ver-O-Poema.

Após se cadastrar você poderá enviar suas próprias postagens e nós cuidaremos das configurações.

assine nossa newsletter

postagens recentes

comentários recentes

divulgação

Cabeza de serpiente emplumada, novo livro de poesia de Claidio Daniel (Cajazeiras: Arribaçã, 2025)

vendas

Em Pssica, que na gíria regional quer dizer ‘azar’, ‘maldição’, a narrativa se desdobra em torno do tráfico de mulheres. Uma adolescente é raptada no centro de Belém do Pará e vendida como escrava branca para casas de show e prostituição em Caiena.
Um casal apaixonado. Uma intrusa. Três mentes doentias. Agora em uma edição especial de colecionador com capítulo extra inédito, conheça o thriller de estreia de Colleen Hoover, que se tornou um fenômeno editorial e best-seller mundial.
Editora Rocco relançou toda a sua obra com novo projeto gráfico, posfácios e capas que trazem recortes de pinturas da própria autora
Considerado o livro do ano, que virou febre no TikTok e sozinho já acumulou mais de um milhão de exemplares vendidos no Brasil.
A Biblioteca da Meia-Noite é um romance incrível que fala dos infinitos rumos que a vida pode tomar e da busca incessante pelo rumo certo.
Imagine parar por alguns instantes e desfrutar de um momento diário com alguém que te ama e tem a resposta para todas as tuas aflições.
0
Adoraria saber sua opinião, comente.x