Maria Teresa Horta (1937-2025)
Maria Teresa Horta (1937–2025) foi uma destacada poeta, jornalista e ativista feminista portuguesa, conhecida como uma das “Três Marias” por Novas Cartas Portuguesas, obra que desafiou a censura do Estado Novo, levando à sua prisão em 1972, e que se tornou símbolo da luta feminista em Portugal. Faleceu em Lisboa, em 4 de fevereiro de 2025, aos 87 anos. Nasceu em Lisboa, em 20 de maio de 1937, e estudou na Faculdade de Letras, um caminho incomum para mulheres na época. Começou cedo no jornalismo e publicou sua primeira poesia em 1960 com Espelho Inicial. As “Três Marias”: Junto com Maria Isabel Barreno e Maria Velho da Costa, escreveu Novas Cartas Portuguesas (1972), um livro que explorava a condição feminina e foi processado e censurado pela ditadura, gerando protestos e visibilidade internacional. Foi uma militante incansável pelos direitos das mulheres, dirigiu a revista Mulheres e esteve sempre envolvida em debates sobre igualdade de género, mantendo sua voz insubmissa até o fim. Recebeu diversos prêmios literários e foi homenageada com a Ordem da Liberdade em 2022, sendo reconhecida internacionalmente pela BBC como uma das mulheres mais influentes.
Seleção Poética
EXISTEM PEDRAS
Existem pedras nos olhos mas não as tragas contigo meu amor e meu amigo Existem pedras nas mãos mas não as uses comigo meu amor e meu amigo Existem pedras sedentas de amor e muito perigo não queiras que elas inventem motivo de meu castigo
Memória
Retenho com os meus Dentes A tua boca entreaberta E as palmas das mãos Dormentes Resvalam brandas e certas As tuas mãos no meu peito E ao longo Das minhas pernas O Meu Desejo Afaga devagar as minhas Pernas Entreabre devagar os meus Joelhos Morde devagar o que é Negado Bebe devagar o meu Desejo
Pena
As tempestades da alma Iluminam o poema Com as farpas da minha pena
Descrente
Sou uma descrente ensombrada que acredita somente na invenção da palavra poética e sol poente Só da poesia sou crente
De “Anjos mulheres” (XI)
Voamos a lua Menstruadas Os homens gritam – são as bruxas As mulheres pensam: – são os anjos As crianças dizem: – são as fadas
AMAMENTAR
Quem alimentas tu que dás o peito? O leite depois o sangue do teu corpo Quem alimentas tu que dás o peito? Mulher de seio húmido calado à boca do povo
MODO DE AMAR I
Lambe-me os seios desmancha-me a loucura usa-me as coxas afaga-me o umbigo abre-me as pernas põe-nas nos teus ombros e lentamente faz o que digo
A VEIA DO (TEU) PÊNIS
O vulto… A vulva? A veia em movimento que cresce e doma o nervo do teu pênis O ventre… O vácuo? O vício do teu corpo ópio de esperma com qual me enveneno
Maria Teresa Horta
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