MERGULHAR NO RIO DAS PALAVRAS – Uma crônica que nos convida a um mergulho, por Ana Meireles

Ela comeu o pão que o anjo mau amassou, sobreviveu a duras penas. Seu verbo vivia no recôndito das entranhas e, para liberta-lo, uma boa parte de vida galgou. Foram anos de prisão em que a palavra resfolegava e o mundo nem mensurava o quanto podiam doer palavras congeladas. Passou a escrever e esse se tornou o método que encontrou para se libertar das amarras que lhe confinavam a um universo obtuso, sem premissas de sonhos.

Não fora nada fácil, mas passou a encontrar conforto quando deitava as mãos na brancura das páginas e a caneta deslizava…As letras eram um rio ao qual aprendera a navegar sentindo crescer a necessidade de manejo nas ocasiões em que as correntezas eram tão fortes e amedrontavam, exigindo o trato equilibrado nas metáforas de navegação.

A linguagem muitas vezes podia ser comparável ao crescimento de uma onda adquirindo volume até se agigantar e se esparramar na areia quente de uma praia. Para muitos poderá representar a beleza desafiadora que encanta os praticantes de surf. Para outros, o volume aquático de um mistério insondável a causar medo. E outros: Um beijo que molha suave a superfície de um rosto. A linguagem, realmente, é objeto complexo pela inegável possibilidade de adquirir significados diversos.

E é justamente aí que acontecem os ferimentos de ordem egocêntrica, os ferimentos que atingem a intimidade do ser na sua relação com a parte desconhecida de si mesmo.

É nessas ocasiões que, numa situação de trocas verbais, aquele que costuma ser o juiz acusador é convidado a olhar para dentro de si para que estabeleça uma relação de razoabilidade e consiga sentir o outro, ocupar, ainda que indelével, a hipotética condição ocupada pelo outro. Somente desta forma, desta forma, seguindo o percurso da sensibilidade, tornando-se sensível, é que se pode tentar adentrar no espaço de domínio dos significados e significantes e as fortes ondas que caracterizam a maré polissêmica das palavras no rio tantas vezes intrafegável dos sentidos. É necessário mergulhar!

Ana MEIRELES – Poeta Paraense

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lutei 7 infinitas guerras no flanco esquerdo do velho soldado e só levei chumbo perdi todas as pelejas mas continuo cantando a canção dos partisans no lado B da resistência
Um dos livros, em língua portuguesa, mais vendidos na Amazon. Pouco antes de morrer, em 1977, Clarice Lispector decide se afastar da inflexão intimista que caracteriza sua escrita para desafiar a realidade
"A poesia, como toda criação artística, é um dos pilares das humanidades. Ao explorar os caminhos da emoção, da sensibilidade e da imaginação,"
Antônio Juraci Siqueira nasceu em 28 de outubro de 1948 em Cajary, município de Afuá no Pará, onde, ainda menino, descobriu a literatura através dos folhetos de cordel.

Autor

  • Ana Meireles

    Ana Meireles, Psicóloga, Poeta e Compositora. Servidora Pública do Estado. Com participações em diversas Antologias e publicação dos seguintes livros : Escritos ao Vento; EntreVersos; Tempo Meu; Uni-versos Meus; Semblante de Nós; Vasos ficam lindos se ornados com flores; No fosso da garganta (gênero poesia); Atravessamentos (gênero crônica); Clarissa; Corujinha (Literatura Infantil).

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