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TRATADO POÉTICO DE B E N J A M I M

Benjamim, que brilho é este em teus olhos onde transparecem vida e solidão? Que choro é este teu, de mel amargo, às vezes, num dia somente teu? Aceitar as dores dos teus anjos e demônios, os espantalhos que te aviam, tempestuosos, repentinamente à tua porta? Que lamento é este teu, de farpas e perguntas, e ventre explodindo num grito social, secular? As garças amarguradas à beira d’um rio velho, contando a história de segundas vidas enquanto a avó dança no quarto agarrada à friagem.

Fiz um mergulho intenso nesta obra. Difícil não se ater ao todo desta lavra. Encontrei uma nave estelar no coração do poeta. Ishiguro conjuga verbos em quinta e sexta dimensões – guardião do passado para mais adiante, já de carne envelhecida, buscar nos alpendres da infância o testemunho da pulsação do seu tempo. A bússola inquieta nos origâmis vigilantes sacraliza água divisória em noites largas, açoitando espaços temerosos da infância onde ventos sonoros correm à mesa de cear com os espíritos. Adolescer em Monte Alegre entre avoantes em jardins amorosos, silêncios carmim em pergaminhos eternos no peito da mãe, Benjamim, o filho da felicidade, fulgura feito astro luminoso ancorado em sangue herdado e repartido, porque a garganta arde em flor sob tempestades de chuva fértil.

Da “Aldeia da agonia e encantos mudos quando todas as palavras querem apenas ganhar um abraço” Edmir “er-gue uma paisagem no céu da alma”, constata que “o avô se esqueceu de voltar” – chovido na solidão dos túmulos – ali Teresas, Severinas, pessoas aladas com asas nas falas das lendas e cheiros de emoções.

Para cantar as nascentes de tudo, Benjamim – um sino indefinido – esparrama um gosto de festa semeada, lá aonde não comporta as regras dos homens rudes. Poesia densa, feita de distanciamentos vários, frágeis melancolias, saudosa de tudo e tanto ainda não revelado. Às vezes um quieto rosário de contas em desalinho, onde, em lugar do credo, os sonhos se misturam formando as metamorfoses mais delirantes. Há os repuxos do coração diante da eterna mutação da Terra e das criaturas comuns, quietudes sonoras; barulhos de meninos no rio das águas inalteradas; feridas resignadas; a dor mais doída na tristeza da mãe; pescador de estrelas rebeldes caídas num barco dourado; finadas borboletas anônimas d’um catalogo imaginário.

Edmir “caça esquecimentos”. Paco não responde. O “homem do saco» se afoga nas pequenas águas do rio que atravessa a cidade.” A mãe dorme entre açucenas” na melodia que a vida é tudo rio. O viço do menino pendurado num raio de sol quis falar, mas Benjamim apontou as escuridões nos rumos de lá, das solidões adestradas quando o tempo se torna vigília ruindo. E era “num dia do mês de outubro de 1920”. Ainda hoje, aquele infante e seus brinquedos lúdicos, destituídos de arrogâncias, feito de silêncios e renúncias, permeia a melhor poesia brasileira com fios e urdidura de um lirismo singular.

“Benjamim sou eu” Edmir, é certo que conspiras com a beleza e as mais fundas emoções para nos inquietar. De modo que voei entre origâmis iluminados. Mergulhei em tuas águas amazônicas. Fiz colóquios com os deuses desse norte encantado. Impregnada da exuberância e pedigree dos teus versos intensos, findo: grandes poetas nascem no coração das Palavras e vão morar eternamente na alma do mundo.

Eulália M. Radtke – Poeta

Inverno de 2020

Navegantes-SC – Brasil

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