
MARÉ DE PONTA
Se o meu poema não ranger os dentes
nem te mostrar as garras, de que vale?
De que vale um poema ensaboado
cheirando a talco e água de colônia?
Para que um poema não-me-toques
metido abesta, e nariz empinado?
Poema tem que ser faca de ponta
zagaia, porantim, ferrão de arraia!
Poema pitiú com escama e lodo
armado de esporões e girassóis.
* * *
ARTE POÉTICA
Hoje,
amanheci meio peixe,
meio pássaro.
Estou aprendendo a nadar,
tomando aulas de vôo
e aprimorando o canto.
Amanhã,
pássaro pleno,
insofismável peixe,
debulharei meu canto sobre a terra
em nados abissais
e voos rasantes.
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