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‘Os loucos’ poema de Edmir Carvalho Bezerra

Fotografia poética em preto e branco: retrato humano intenso, simbolizando a loucura criativa e espiritual – 'Christmas Eve' por Lee Jeffries

Os Loucos

Olhe para o homem
com arco e flecha nas mãos,
caçando aviões por entre nuvens,
por cima dos edifícios do centro da cidade.

Um homem em sua caravela
em alto mar azul
dedilha Tristesse com sua guitarra.
Diz-se encantador de sereias,
seus olhos faíscam sentimentalidades.

O homem que varreu o Gólgota, no sábado de aleluia,
desenha montanhas em azulejos
para o revestimento dos altares
das igrejas submersas no mais recente dilúvio.

Aquela mulher da rua dos mortos
usa lenço de cabeça como se santa fosse.
Foi no verão passado,
arruinou um a um os fios de seus cabelos
e chora todos os dias sua prova de amor.

O homem cheio de mágoas noturnas
nomeou setecentas e setenta e oito mil estrelas,
agora as fotografa pacientemente
para o seu álbum de figuras luminares.

Olhe bem aquele homem que recorta palavras raras
e as cola em seu dicionário de filologia
para ferir de poesia os olhos dos cegos,
causar espanto nos mudos,
ouvir dos mortos os silêncios.

Os loucos tocam piano angustiados,
os loucos são ciganos tristes,
os loucos fumam no guindaste amarelo,
leem Borges e Mario Vargas Llosa.

Os loucos são magros e são gordos,
os loucos são todos fodidos,
os loucos são frágeis como flores,
passeiam sobre cordas bambas.

Os loucos veem a face de Deus no espelho
e viajam na escuridão do dia.
Os loucos põem fogo nos pássaros.

Eles improvisam orações em voz alta,
com nuvens negras lentas ao fundo,
causando esplêndidas turbulências… !

Edmir Carvalho Bezerra

Photography – Christmas Eve by Lee Jeffries

Este poema toca sua alma? Deixe seu comentário e compartilhe esta visão dos loucos — os verdadeiros videntes do mundo.

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