Paixão pela leitura!

os nomes do cão – conto de Whisner Fraga

a velha hasteia o galho, há no semblante uma combinação de justiça e repulsa, os ramos de arruda descem violentamente a um palmo do focinho de lúcifer e principiam um balé de bênçãos e outras dissimulações, ela batiza o cachorro: nomeio-te emanuel!, tu não és mais o tinhoso: é admirável uma analfabeta se expressar com essa solenidade, o dobermann arregaça a boca, os dentes ferroam a brincadeira, jamais aportariam na carne desusada da benzedeira, que repete emanuel emanuel e o animal interpreta algum comando naquele vocábulo, alguma determinação para saltitar, para se divertir, eu acompanho essa nova investida de mamãe, enquanto manejo uma pequena bola: lúcifer, chamo, e o bicho dispara até meus braços e lambe minha mão.

Autor

  • Whisner Fraga
    Nasceu em Ituiutaba (MG), em 1971. É autor de As espirais de outubro (2007), Abismo poente (2009), O que devíamos ter feito (2019), entre outros. Tem contos traduzidos para o inglês, o alemão e o árabe. É responsável pelo canal Acontece nos livros (YouTube), em que fala sobre obras da literatura contemporânea.

Compartilhe nas redes sociais.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Também podes Ler

”As cento e onze picas” – A poesia em estado de choque. Por Celso de Alencar

CELSO DE ALENCAR nasceu (1949) em Fortaleza. Migrou para o estado do Pará e lá viveu nas cidades de Abaetetuba e Belém. Reside na cidade de São Paulo desde 1972.

“A profecia autocumprida” – por Gabriel García Márquez

Os filhos lhe perguntam o que aconteceu e ela lhes responde: — Não sei, mas amanheci com o pressentimento de que algo muito grave vai acontecer em nosso povoado.

“Os poemas do Vlado não se parecem com nada. São originalidade em estado puro.” A poesia de Vlado Lima

lutei 7 infinitas guerras no flanco esquerdo do velho soldado e só levei chumbo perdi todas as pelejas mas continuo cantando a canção dos partisans no lado B da resistência