Quatro poemas intensos do poeta italiano Alessio Brandolini em versão bilíngue. Lirismo sobre a memória, natureza e a condição humana em versos entre o doce e o dramático.
Tens uma face doce e tranquila
Tens uma face
doce e tranquila
talvez por isso
às vezes penso
que te conheço
desde sempre
que posso dialogar
contigo, estando sentado
encostado no tronco
liso do castanheiro
a refugiar-me
dos ruídos e do sol.
Aqui havia um poço
faz tempo
no centro do terreno
num caminhão vermelho
carregavam a uva.
Tens uma face
doce e tranquila
que se reconstrói por si só
quando me assalta
a vontade
de raspá-la de vez
dos muros
arcaicos da mente.
Hai un volto
dolce e tranquillo
forse per questo
a volte penso
di conoscerti
da sempre
di poter dialogare
con te, stando seduto
la schiena contro il legno
spianato del castagno
a ripararmi
dai rumori e dal sole.
Qui c’era un pozzo
una volta
al centro del terreno
su camion rossi
caricavano l’uva.
Hai questo volto
dolce e tranquillo
che si recostruisce do solo
quando mi prende
la voglia
di raschiarlo per sempre
dalle pareti
arcaiche della mente.
Alessio Brandolini
Nuvens densas e escuras
Nuvens densas e escuras
são refúgios atômicos
inteiras cidades obliteradas
exércitos que avançam
lutando contra o vento.
Nesta hora, depois
que o odor intenso
da bruma e do calor
incita à busca
da água mais fresca.
Além da rede metálica
com os fios retesados
estão uns sobre os outros
os ramos cortados
que insistem em florir.
Vejo-os
preso a uma bolha
de vidro que volteja
entre a folhagem espalmada
da acácia que ri.
Nuvole dense e scure
sono rifugi atomici
intere città cancellate
exerciti che avanzano
contrastati dal vento.
A quest’ora, poi
che l’odore intenso
della foschia e del caldo
spinge in cerca
dell’acqua più fresca.
Oltre la rete metallica
con i fili spinati
stanno uno sull’altro
i rami tagliati
che seguitano a fiorire.
Li osservo
piegato in una bolla
di vetro che volteggia
tra le foglie palmate
dell’acacia che ride.
Alessio Brandolini
Novembro dos vivos
Executado e contudo anda com passo
de dança: vem de um mundo recluso
na boca tem cascas de pão mofado
na mochila uma caixa de leite
negro mesmo antes de ser bebido.
O vento quente de agosto esgotava
os lábios ensangüentados.
Estava feliz naquele dia por isto
mandou saudações aos amigos, mesmo aos
de longe ou que nunca havia conhecido.
Folhas amarelas das mãos de fogo
não o calor que vem
de baixo, da guerra,
dos lagos de petróleo
do grito sem vulto da dor.
Decapitado mas anda, está vivo
e prossegue ereto rumo ao alvo
depois de anos em que tudo dava errado
transtornado pelos estampidos, crucificado
a cara contra o muro do pecado.
Giustiziato eppure cammina a passo
di danza: viene da un mondo recluso
in bocca ha croste di pane ammuffito
nello zaino un cartone di latte
nero ancor prima d’essere bevuto.
Il vento caldo d’agosto sfibrava
le labbra insanguinate.
Era felice quel giorno per questo
inviò un saluto agli amici, anche quelli
lontani o che non aveva mai conosciuto.
Foglie gialle dalle mani di fuoco
non il calore che arriva
da sotto, dalla guerra
dai laghi di petrolio
dal grido senza volto del dolore.
Decapitato ma cammina, è vivo
e procede dritto verso il bersaglio
dopo anni dove tutto andava storto
turbato dagli scopi, messo in croce
la faccia contro il muro del peccato.
Alessio Brandolini
As árvores foram abandonadas?
As árvores
foram abandonadas?
já não têm nome
sob o espesso córtice
não há mais que o vazio
uma passagem aberta
sem linfa
um ninho de mofo, de traças.
Por isso em três dias
virão abatê-la.
Por terra os frutos
carcomidos pelos vermes
tomados de assalto
pelas formigas esfomeadas
e as aranhas vermelhas
com suas bocas de tenazes.
Em volta da árvore
o tapete de folhas
maceradas na água.
Gli Alberi
sono stati abbandonati?
non hano più nome
sotto la spessa corteccia
c’è solo un buco
un passaggio sbarrato
privo di linfa
un nido di muffa, di tarli.
Per questo fra tre giorni
verranno ad abbatterli.
A terra i frutti
svuotati dai vermi
presi d’assalto
da formiche affamate
dai ragi rossi
con la bocca a tenaglia.
Intorno all’albero<
il tappeto di foglie
macerate nell’acqua.
Alessio Brandolini
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