NÃO APENAS PASSANTES
Ontem uma estrela disse à pequena luz em meu coração: Não somos apenas transeuntes passando. Não morra. Sob esse brilho alguns andarilhos permanecem caminhando. Você foi concebida por amor. Portanto, não leve mais que amor àqueles que tremem. Um dia todos os jardins brotaram de nossos nomes, daquilo que restou dos corações ansiosos. E desde que se tornou madura, esta língua antiga nos ensinou a curar pessoas com nossos desejos, como ser um aroma celestial para relaxar seus pulmões contraídos: um suspiro de boas-vindas, um hausto de oxigênio. Suavemente passamos sobre as feridas, como uma gaze suave, um olhar de alívio, uma aspirina. Ó pequena luz em mim, não morra, mesmo que todas as galáxias do mundo se apoximem. Ó pequena luz em mim, diga: Entrem em paz no meu coração. Todos vocês, entrem!

RECOMPONHA-SE
Oh como estamos sozinhos! Todos os outros vencem suas guerras e vocês foram deixados na lama, inúteis. Darwish, você não sabe? A poesia não devolverá aos solitários o que foi perdido, o que foi roubado. Como estamos sozinhos! Esta é mais uma idade da ignorância. Malditos sejam aqueles que nos dividiram em guerra e marcharam juntos em teu funeral. Como estamos sozinhos! A Terra é um mercado aberto, e seus grandes países foram leiloados, sumiram. Como estamos sozinhos! Este é um tempo de insolência, e ninguém ficará do nosso lado, nunca. Oh! Como estamos sozinhos! Enxugue seus poemas, antigos e novos, e todas essas lágrimas. E você, Palestina, recomponha-se.

SETE CÉUS PARA A PÁTRIA
Em nossos pulmões há uma pátria e em nossa respiração um exílio. Uma pátria que corre em nossas veias conforme nossos passos se aproximam dela. Ela cultiva, nos bosques da tristeza, videiras de estrangeiros, olhares como [ lágrimas penduradas. Ela nos presenteou com sua melodia e desistiu de todo o canto. Podemos negá-la, pode ela nos negar, [ se é nosso sangue e somos mestres em sangrar? Em nossos livros, fome e pão são sinônimos, luz e escuridão, todos os cacos quebrados. Aprendi a encontrar esperança nos [ extremos do amor e nuvens de chuva no deserto de rimas. É uma pátria que retorna nua para nós, mas sabe nos envolver como um manto. Em nosso sangue, ela esconde mares e lança navios com nossos [ batimentos cardíacos. Enfia suas calçadas em nossos travesseiros e suas cidades em nossos sonhos. Dormirá ela em nós pela eternidade [ e continuará a inventar o tempo, de novo e de novo? Como essas oliveiras que se erguem [ como estrangeiras, sua cor e sabor alienígenas, não há lugar para nós neste universo. Como um corredor estreito, ela se fecha. É como se fôssemos escândalos, nossa [ saudade um crime, e o amor ao nosso país um pecado.
Tradução: Huda Fakhreddine / Carlos Machado – publicado originalmente no Blog Poesia.net
Autor
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Heba Abu Nada (1991-2023) nasceu em Meca, na Arábia Saudita. Estudou bioquímica na Universidade Islâmica de Gaza e fez o mestrado em Nutrição Química. Poeta e prosadora, em 2017 publicou o romance Oxygen is Not for the Dead (O oxigênio não é para os mortos). A escritora foi morta aos 32 anos, durante um bombardeio em Khan Yunis, no sul da Faixa de Gaza, em 20 de outubro de 2023.