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Poemas de Heba Abu Nada – Uma jovem escritora morta num bombardeio em Gaza

NÃO APENAS PASSANTES

Ontem uma estrela disse
à pequena luz em meu coração:
Não somos apenas transeuntes
passando. 

Não morra. Sob esse brilho
alguns andarilhos permanecem
caminhando. 

Você foi concebida por amor.
Portanto, não leve mais que amor
àqueles que tremem.

Um dia todos os jardins brotaram
de nossos nomes, daquilo que restou
dos corações ansiosos.

E desde que se tornou madura, 
esta língua antiga
nos ensinou a curar pessoas 
com nossos desejos,

como ser um aroma celestial
para relaxar seus pulmões contraídos: 
um suspiro de boas-vindas,
um hausto de oxigênio. 

Suavemente passamos sobre as feridas,
como uma gaze suave, um olhar de alívio,
uma aspirina. 

Ó pequena luz em mim, não morra,
mesmo que todas as galáxias do mundo
se apoximem. 

Ó pequena luz em mim, diga:
Entrem em paz no meu coração.
Todos vocês, entrem!
Heba Zagout (1984-2023), pintora palestina morta num bombardeio em Gaza, Sem título (2023)

RECOMPONHA-SE

Oh como estamos sozinhos!
Todos os outros vencem suas guerras
e vocês foram deixados na lama,
inúteis.

Darwish, você não sabe?
A poesia não devolverá aos solitários
o que foi perdido, o que
foi roubado. 

Como estamos sozinhos!
Esta é mais uma idade da ignorância.
Malditos sejam aqueles que nos dividiram
em guerra e marcharam juntos 
em teu funeral. 

Como estamos sozinhos!
A Terra é um mercado aberto,
e seus grandes países foram leiloados,
sumiram. 

Como estamos sozinhos!
Este é um tempo de insolência,
e ninguém ficará do nosso lado,
nunca. 

Oh! Como estamos sozinhos!
Enxugue seus poemas, antigos e novos,
e todas essas lágrimas. E você, Palestina,
recomponha-se.  
Heba Zagout, Sem título (2020)

SETE CÉUS PARA A PÁTRIA

Em nossos pulmões há uma pátria
e em nossa respiração um exílio.

Uma pátria que corre em nossas veias
conforme nossos passos se aproximam dela.

Ela cultiva, nos bosques da tristeza,
videiras de estrangeiros, olhares como 
                [ lágrimas penduradas.

Ela nos presenteou com sua melodia
e desistiu de todo o canto.

Podemos negá-la, pode ela nos negar, 
                [ se é nosso sangue
e somos mestres em sangrar?

Em nossos livros, fome e pão são sinônimos,
luz e escuridão, todos os cacos quebrados.

Aprendi a encontrar esperança nos 
		[ extremos do amor
e nuvens de chuva no deserto de rimas.

É uma pátria que retorna nua para nós,
mas sabe nos envolver como um manto.

Em nosso sangue, ela esconde mares
e lança navios com nossos 
		[ batimentos cardíacos.

Enfia suas calçadas em nossos travesseiros
e suas cidades em nossos sonhos.

Dormirá ela em nós pela eternidade 
		[ e continuará 
a inventar o tempo, de novo e de novo?

Como essas oliveiras que se erguem 
		[ como estrangeiras,
sua cor e sabor alienígenas,

não há lugar para nós neste universo.
Como um corredor estreito, ela se fecha.

É como se fôssemos escândalos, nossa 
		[ saudade um crime,
e o amor ao nosso país um pecado.

Tradução: Huda Fakhreddine / Carlos Machado – publicado originalmente no Blog Poesia.net

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