E se eu te der meu riso de menino?
Se eu te entregar o meu destino
me deixarás tua mão, me deixarás tua boca?
E se eu te der meu riso de menino?
Vão morrer na visão dos teus abraços
Toda tropa que pisa um destino
é carvão que se solta, incandescente
Cada riso mandado ao inopino
é carvão que se solta, permanente
O carvão, neste corpo de menino
misturado de pedra e aguardente
É missão onde fica, tão mofino
quando morre da vida, de repente
Toda vida é instância capital
uma treva embebida em bem e mal
Uma vida com aços e rancores
onde tecem ramagens e andores.
Quem dirá que destroços dos meus traços
vão morrer na visão dos teus abraços?
Quando eu chegasse na noite/
e comesse meu destino/
as amantes que me amarram/
nem saberiam de mim/
Minhas carnes já cortadas/
meus rasgos de ventania/
as poeiras debruçadas/
sobre meu corpo de enguia/
O vasto de tantas gentes/
os berros da poesia/
sobravam destas correntes/
no abafado do dia. /
eu só padeço de excessos orbitais
Eu só padeço de excessos orbitais.
Tenho uns mares tão vis e alcandoreiros
que uns navios, excessos de cargueiros
só me navegam em fugas animais.
Cada pedaço de mar, de águas-vivas
cada pedaço de água, rente em pelo
pode chegar em forma de degelo
de corrimãos esquivos e mortais.
Ciranda. Porque tudo é desmazelo
que vive tudo aos trancos nos punhais.
Somos de toda missão incandescência
Somos de toda missão incandescência/
bebida nos pavores da couraça/
que cobre cada corpo em fel e jaça/
e entrava desertores em descrença./
Perdidos por mais, somos na dormência/
do olho que se entope em gado e gente/
e rimos pelo riso do inclemente/
que come da desgraça e que não sente.
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