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Homenagem ao poeta Carvalho Júnior (Caxias, MA)
Ainda é difícil falar do poeta Carvalho Júnior. O poeta de Caxias, no Maranhão, faleceu em 31 de março de 2021, aos 35 anos de idade, vítima da pandemia da Covid, enquanto celebrava o sucesso do sexto livro “O Homem-Tijubina” (editora Patuá). À época, todos os seus amigos ficaram comovidos e destroçados. Carvalho era de noites — e noites de conversas e paixões poéticas. Morreu muito jovem esse poeta, esse nosso irmão, esse amigo.
Araruta
somos feitos
das mesmas fomes
dos nossos pais,
das mesmas lenhas
que os guardaram
do frio súbito das noites
caseadeiras de exílios.
das mesmas fomes
dos nossos pais,
das mesmas lenhas
que os guardaram
do frio súbito das noites
caseadeiras de exílios.
de vez em quando,
ouço de longe
a voz da lágrima
do meu pai
e de minha mãe.
ouço de longe
a voz da lágrima
do meu pai
e de minha mãe.
um quintal de ararutas
nasce dentro
do chão cansado
dos meus olhos.
nasce dentro
do chão cansado
dos meus olhos.
Paredes da infância
na persistência no reboco
das paredes da infância,
notei no coração da minha alma
uma velha Singer que pulsa.
das paredes da infância,
notei no coração da minha alma
uma velha Singer que pulsa.
há uma máquina de costura
e um tamborete gasto
como se fosse a asa da mãe
a me cingir os vazios
com linhas de cores diversas.
e um tamborete gasto
como se fosse a asa da mãe
a me cingir os vazios
com linhas de cores diversas.
no zigue-zague da saudade,
[re]visto-me de calções de cotelê,
de camisas quadriculadas
[com botões e colchetes
do mercadinho do Élder]:
[re]visto-me de calções de cotelê,
de camisas quadriculadas
[com botões e colchetes
do mercadinho do Élder]:
[re]teço-me
e [re]bordo-me
nas entretelas de um amor
na ponta da agulha.
e [re]bordo-me
nas entretelas de um amor
na ponta da agulha.
O áudio a seguir é forte e comovente. Foi a última vez que nos falamos, poucos dias antes da morte do poeta. Ele sentia os sintomas da doença. Falou-me da leitura que fazia do meu livro “O Cardeno de Benjamim”. (Edmir)
— em memória e companhia das palavras —

Homenagem tocante poeta. Me comove.
Meus sentimentos pela prematura perda de seu precioso amigo. Abraços da poesia.
Belíssimo poema! Adorei bastante escutá-lo.