
– Quase despida estava ela
E de um grande ramo indiscreto
Folhas saltavam na janela
Em malícia, perto, perto.
.
Seminua, cruzava as mãos,
Assentada sem muito tino
No sofá, esfregando ao chão
Os pezinhos tão finos, finos.
.
– Pálido, ficava a observar
Uma pequena luz gazeteira
Em seu sorriso borboletear
E no seio, – mosca na roseira.
.
– Beijei-lhe os tornozelos finos.
Soltou doce riso brutal
Que se desfez em claros trinos,
Um belo riso de cristal.
.
Pequeninos pés em partida
Sob a camisa: “Queres parar!”
– Primeira audácia permitida,
E o riso que fingia castigar!
.
– Sob os meus lábios, palpitantes
Os olhos se deixavam beijar:
– Joga a cabeça petulante
Pra trás: “Muito melhor está!…
.
Senhor, tenho algo a lhe dizer…”
– O resto no seio eu lançava
Num beijo que lhe deu prazer
Com um bom riso que aceitava…
.
– Quase despida estava ela
E de um grande ramo indiscreto
Folhas saltavam na janela
Em malícia, perto, perto.
.
Première soirée
– Elle était fort déshabillée
Et de grands arbres indiscrets
Aux vitres jetaient leur feuillée
Malinement, tout près, tout près.
.
Assise sur ma grande chaise,
Mi-nue, elle joignait les mains.
Sur le plancher frissonnaient d’aise
Ses petits pieds si fins, si fins.
.
– Je regardai, couleur de cire
Un petit rayon buissonnier
Papillonner dans son sourire
Et sur son sein, – mouche au rosier.
.
– Je baisai ses fines chevilles.
Elle eut un doux rire brutal
Qui s’égrenait en claires trilles,
Un joli rire de cristal.
.
Les petits pieds sous la chemise
Se sauvèrent: “Veux-tu finir!”
– La première audace permise,
Le rire feignait de punir!
.
– Pauvrets palpitants sous ma lèvre,
Je baisai doucement ses yeux:
– Elle jeta sa tête mièvre
En arrière: “Oh! c’est encor mieux!…
.
Monsieur, j’ai deux mots à te dire…”
– Je lui jetai le reste au sein
Dans un baiser, qui la fit rire
D’un bon rire qui voulait bien…
.
– Elle était fort déshabillée
Et de grands arbres indiscrets
Aux vitres jetaient leur feuillée
Malinement, tout près, tout près.
.
– Arthur Rimbaud, no livro “Antologia poética”. organização e tradução Afonso Henriques Neto. 7Letras, 2020
- Você já leu “Pequena coreografia do adeus” de Aline Bei?
- O Rebanho de Saturnino – Um conto de Edmir Carvalho Bezerra
- “Não acredito no eco dos trovões” – A poesia do poeta chinês Bei Dao
- “Vou pescar meu poema e sair por aí” – A poesia de Rose Rosário
- “A hora da estrela” de Clarice Lispector – Edição comemorativa
Autor
-
Arthur Rimbaud, nascido no dia 20 de outubro de 1854, em Charleville, comuna francesa, Jean-Nicolas Arthur Rimbaud foi um poeta influente que escreveu praticamente todas as suas obras primas entre os 15 e os 18 anos. Segundo a opinião de críticos literários, o poeta francês é considerado precursor do surrealismo e também um pós-romântico.Começou a revelar seu talento para a poesia durante a adolescência e, devido a seu temperamento rebelde, acabou fugindo de casa várias vezes durante a juventude. Ao completar 17 anos, muda-se para Paris com o apoio do poeta Paul Verlaine. Rimbaud tinha enviado sua obra “Soneto de Vogais” para Verlaine, que, um ano depois, deixa a família e começa a viver junto de Rimbaud em Londres. A relação de amor e ódio entre os dois chega ao fim quando Rimbaud é ferido por Verlaine com uma bala no pulso.Rimbaud, talvez, tenha sido um dos primeiros poetas a viver sua própria poesia. Influenciou autores da geração perdida (Ernest Hemingway, F. Scott Fitzgerald, Ezra Pound, Sherwood Anderson) e os beatniks dos anos 50 (Jack Kerouac, Allen Ginsberg, William Burroughs).Um dos apreciadores da obra de Rimbaud foi Henry Miller, escritor americano subversivo dos anos 30 que também viveu em Paris. “Até que o velho mundo morra de vez, o indivíduo 'anormal' será cada vez mais a norma. O novo homem se encontrará quando a guerra e a coletividade entre o indivíduo cessar. Veremos então o tipo de homem em sua plenitude e esplendor", disse Miller sobre Rimbaud.Entre suas principais obras estão “Uma Estação no Inferno”, de 1873 e “Iluminações”, de 1886. As duas abrangem novidades estéticas na maneira de escrever literatura com uma linguagem mais libertária, sendo que as idéias, nas obras de Rimbaud, nasciam da sinergia entre o verbo e tudo que os sentidos interpretavam. Aos 20 anos de idade, Rimbaud abandona a literatura e retoma a vida sem rumo que levava quando adolescente.Começa a trabalhar com comércio de café na Etiópia, chega a fazer parte do Exército das colônias holandesas e faz tráfico de armas em Ogaden. Ainda visita o Chipre e Alexandria. Sua caminhada termina quando tem a perna amputada devido a um câncer no joelho. Após este episódio, morre no dia 10 de novembro de 1891 em Marselha, após anos de agonia. ___ * Fonte: ARAUJO, Felipe. Arthur Rimbaud. InfoEscola. Disponível no link. (acessado 25.6.2014). :: BORGES, Rudinei. A criação verbal de Rimbaud: a palavra selvagem. Revista Parâmetro - cultura e sociedade, 24 de fevereiro, 2011. Disponível no link. (acessado em 24.6.2014). :: CAVALCANTI, Jardel Dias. Rimbaud, biografia do poeta maldito. Digestivo Cultural (colunas), 10.08.2010. Disponível no link. (acessado em 24.6.2014). OBRA DE ARTHUR RIMBAUD Une saison en enfer. Alliance typographique M.J. Poot,, Bruxelles, 1873. Les illuminations. Edition originale de La Vogue, 1886. Reliquaire, poésies. Préface de Rodolphe Darzens, L. Genonceaux éd., Paris, 1891. Rimbaud: poésies complètes. Préface de Paul Verlaine, et notes de l'editeur. Léon Vanier libraire-éd., Paris, 1895. Disponível online BN/FR. Oeuvres. [Édite par Paterne Berrichon].. París: Éditeur Société du Mercure de France, 1898. Disponível online BN/FR. (acessado em 26.6.2014). Poesies: edition critique. [introduction et notes par H. de Bovillane de Lacoste]. Paris/Franca: Mercure de France, 1947, 261p. Poésies complètes. Paris: Librairie Générale Française, 2009.