QUANDO JULHO RUGIR – Assista ao vídeo-poema de Vlado Lima

QUANDO JULHO RUGIR

aqui tudo é Tupi
nada dos sámis da Lapônia
dos gigantes de gelo de Utgard
dos inuítes
ou dos nudistas siberianos

frio?
a puta que
pariu

o inverno é um terno cinza com gosto de armário
elegância naftalina para os homens-cebola
juntas de ferrugem
coriza
traças tropicais

bom (só) pra secar uma garrafa de vinho
pensar em suicídio
tramar versos escuros
e dormir de conchinha

bom pra quem quer pagar
de europeu
não eu

sou todo Tupi
da tez à raiz
do hábito excêntrico de idolatrar gotas de H2O
à oca na minha ilha: Mandaqui
(mocó da minha rede)

aqui tudo é Tupi
Anhembi Igaratá caju manacá guri
jabuticaba mandioca
jururu jabuti
Itaquera Pari Peri

aqui
meu Rei é
Guaraci!

então, quando julho ranger os dentes
e os termômetros baterem nos 10 graus
não vou cortar os pulsos
(morrer não leva a nada)
não vou parir poemas nublados
(poesia não leva a nada)

quando julho rugir
vou cair de boca num cabernet
e encoxar o meu amor com terceiras intenções

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Autor

  • Vlado Lima é compositor, poeta, editor e agitador cultural. Publicou os livro Sabe de Nada, Inocente! (Editora Sopa de Letrinhas, 2019), Como Suportar Jabs no Baço e Encarar Nocautes (Patuá, 2015) e Pop Para-Choque (Patuá, 2012). Produz o Sarau Sopa de Letrinhas, é um dos fundadores do Clube Caiubi de Compositores e Sarau da Maria e também um dos responsáveis pela Editora Sopa de Letrinhas. Vlado possui poderes intermináveis. Não terminou o catecismo, não terminou a faculdade de jornalismo, nem o curso de datilografia. Especializado em fazer inimigos, contar piadas de caipira e falar da vida alheia. Nunca foi à Bahia. Odeia João Gilberto e tem saudades da Seleção de 82. Tocou em botecos de terceira do velho oeste e até num extinto inferninho da Avenida Pacaembu, foi demitido deste último, segundo as meninas da casa, porque “tocava” demais.
    Sobre o seu livro "NOIA"
    "Venho dizendo: aqueles que não deliram não terão memória. Voltarão ao pó. Noia é uma manifestação contra a hipocrisia, contra o campo obscuro, contra tudo aquilo que impede a humanidade de gritar, de anunciar a própria existência. Contra a estupidez. Contra a iniquidade. É uma imensa tela de Dalí. Um mural onde a poesia se pronuncia, se estabelece." (Celso de Alencar)

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