QUANDO JULHO RUGIR
aqui tudo é Tupi
nada dos sámis da Lapônia
dos gigantes de gelo de Utgard
dos inuítes
ou dos nudistas siberianos
frio?
a puta que
pariu
o inverno é um terno cinza com gosto de armário
elegância naftalina para os homens-cebola
juntas de ferrugem
coriza
traças tropicais
bom (só) pra secar uma garrafa de vinho
pensar em suicídio
tramar versos escuros
e dormir de conchinha
bom pra quem quer pagar
de europeu
não eu
sou todo Tupi
da tez à raiz
do hábito excêntrico de idolatrar gotas de H2O
à oca na minha ilha: Mandaqui
(mocó da minha rede)
aqui tudo é Tupi
Anhembi Igaratá caju manacá guri
jabuticaba mandioca
jururu jabuti
Itaquera Pari Peri
aqui
meu Rei é
Guaraci!
então, quando julho ranger os dentes
e os termômetros baterem nos 10 graus
não vou cortar os pulsos
(morrer não leva a nada)
não vou parir poemas nublados
(poesia não leva a nada)
quando julho rugir
vou cair de boca num cabernet
e encoxar o meu amor com terceiras intenções
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Grande poeta!